I SÉRIE — NÚMERO 74
10
No Reino Unido, o programa Every Child Matters: Change for Children, de 2004, já lá vão mais de 10 anos,
preconizou, nas áreas da infância, as mudanças que destaco: integração e aumento da qualidade dos serviços
universais pluridisciplinares; ajuda mais especializada para promover oportunidades, prevenir problemas e
atuar precocemente; desenvolvimento de um sentido de responsabilidade partilhada entre todos os serviços e
instituições parceiras para segurança das crianças; ouvir as crianças, jovens e famílias quando se avaliarem e
planearem os serviços, assim como durante a prestação. Em suma, multidisciplinaridade, intervenção precoce,
partilha com a comunidade e participação.
Voltemos ao dia de hoje.
A um quadro concetual dinâmico, parceiro, participado e multidisciplinar — a meu ver, o desejável —, o PS
atual parece preferir o imediatismo da estrutura, prefere discutir a dimensão da estrutura, o peso da estrutura,
a estrutura em si, não sai da estrutura, encerra-se nela. Mas mesmo esta, que os senhores discutem, segundo
os dados apresentados pelo Sr. Ministro, robusteceu-se nos últimos quatro anos! O Sr. Ministro acabou de o
demonstrar.
O tema, mesmo se reduzido à estrutura, como os senhores pretendem, é sempre relevante. Tem
problemas que importa resolver, claro, e o Grupo Parlamentar do PSD não os menoriza, muito pelo contrário,
mas não se associa a uma discussão sem quadro concetual, porque sem quadro concetual qualquer
intervenção será sempre difusa e potencialmente ineficiente.
Esperamos e pedimos ao PS que recupere rapidamente a essência do seu pensamento social, porque os
senhores são necessários a uma intervenção social moderna, eficiente e capacitadora, e os senhores deram
provas disso ao longo do tempo. Hoje, não! Preferem fazer política de casos, mais do que de causas; parecem
preferir a concretude crua e mediática à utopia desejável; preferem a responsabilização estrutural à dinâmica
comunitária. Tudo isto, é uma pena!
Acompanhamos-vos, contudo, na necessidade de resolução dos problemas urgentes e de emergência.
Ficamos tranquilos com o assumido pelo Governo, hoje, e desde 2011, e desafiamos o Partido Socialista a
voltar a ser quem era e a discutir connosco as bases de um pensamento social claro, moderno e, uma vez
mais, dinâmico, interacionista, comunitário e com foco na prevenção.
Hoje, sem nunca esquecer a delicadeza da situação, ficámos sobretudo com as respostas positivas,
assertivas e afirmativas do Governo.
Deste PS, episódico seguramente, ficou pouco; já ontem, na discussão sobre natalidade, muito pouco tinha
ficado. E os senhores são capazes de fazer muito melhor.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Segue-se a intervenção do PS.
Sr. Deputado João Paulo Pedrosa, tem a palavra.
O Sr. João Paulo Pedrosa (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
Três palavras caracterizam a atuação do Governo e da maioria, num domínio tão importante como o da
proteção das crianças: desorientação, irresponsabilidade e falta de sentido de Estado.
Aplausos do PS.
Desorientação, porque, há 15 dias, disseram uma coisa e, hoje, dizem outra. Veio aqui o Sr. Ministro e o
Sr. Deputado José Manuel Canavarro falar de relatórios das CPCJ e estas crianças precisam é de gente, de
técnicos que as cuidem e que possam velar pela sua proteção.
Irresponsabilidade, porque quando a crise se agudiza, quando as famílias estão mais desestruturadas, é
quando o Governo as desprotege, retirando técnicos para poderem trabalhar.
Sr. Deputado José Manuel Canavarro, fala de pré-terceira via, eu diria que isto é pré-civilização, isto é
mesmo a barbárie, porque a desproteção que estão a fazer a estas crianças é totalmente inaceitável.
Aplausos do PS.