27 DE ABRIL DE 2015
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A Sr.ª Presidente da Assembleia da República: — Srs. Deputados, declaro aberta a Sessão Solene
Comemorativa do XLI Aniversário do 25 de Abril.
Eram 10 horas.
A Banda da Guarda Nacional Republicana, colocada nos Passos Perdidos, executou o hino nacional.
De seguida, o Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, colocado na Galeria II, interpretou a
canção «Grândola, vila morena», que a Câmara, no final, aplaudiu.
Em representação do Partido Ecologista «Os Verdes», tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da
República, Sr. Primeiro-Ministro e demais Membros do Governo, Sr. Presidente do Supremo Tribunal de
Justiça e Sr. Presidente do Tribunal Constitucional, Sr.as e Srs. Deputados, Estimadas e Estimados
Convidados, Minhas Senhoras e Meus Senhores:
Se o 25 de Abril foi, nas palavras de Sophia de Mello Breyner, «Como casa limpa / como chão varrido /
como porta aberta», poderemos nós admitir que se impregnem nódoas, manchas de sujidade sobre a
democracia que os capitães de Abril e o povo conquistaram para Portugal?
Permitam-me que precise esta interrogação. Com o 25 de Abril as palavras, as ideias, a intervenção ativa
na sociedade, até então oprimidas pelo regime fascista, ganharam asas, cor e resultados. Foram, então,
reivindicados e conquistados inúmeros direitos sociais e o povo era construtor desse progresso. Agora, vejam
bem que, há algumas semanas, o Grupo Parlamentar de Os Verdes recebeu uma denúncia, sobre uma
questão laboral de um serviço público, de uma pessoa que colocava desesperadamente o seu problema aos
eleitos e pedia ação junto do Governo para a sua resolução. Era estranhamente uma denúncia onde a pessoa
não se identificava, questão justificada, pela própria, por medo de perder o emprego. Por medo de perder o
emprego! Não foi a primeira denúncia anónima a chegar nestes termos ultimamente ao Parlamento. Hoje, que
aqui, na Assembleia da República, comemoramos o 25 de Abril, a pergunta que se impõe é: o que é que se
passa neste País 41 anos depois do 25 de Abril?
Também há relativamente poucos dias os Verdes estiveram, como é habitual, num encontro com
população, onde um homem afirmou que, tendo querido, não tinha ousado participar numa ação pública de
esclarecimento porque receava que viessem a identificá-lo como uma voz reivindicativa na sua empresa.
Pergunta-se: onde é que chegámos 41 anos depois do 25 de Abril?
E, não há muito tempo, o PEV esteve em contacto com um grupo de pessoas, onde uma mulher garantia
estar absolutamente solidária com greves feitas, que respondem ao ataque à dignidade de pessoas
trabalhadoras, mas que ela não exerceu o seu direito à greve porque poderia perder o emprego. Pergunta-se:
para onde nos estão a conduzir 41 anos depois do 25 de Abril?
Não façamos de conta que estas realidades não existem. A democracia não vive sustentada no medo de
intervir. Hoje, estão aqui representados todos os órgãos de soberania e um conjunto vasto de entidades com
elevadas responsabilidades e é preciso que se diga que a lógica do medo não pode, jamais, retomar lugar
neste País. Que é preciso proceder para que o medo do exercício das mais elementares liberdades não ganhe
espaço.
E que ninguém duvide que a precariedade do trabalho, a facilitação do despedimento e os altos níveis de
desemprego são das maiores causas dos casos que aqui relatei. Combater a precariedade e a lógica do
despedimento fácil é, então, clamar pela liberdade das mulheres e dos homens que trabalham. E a liberdade é
dos mais altos valores de Abril.
Nestas circunstâncias, permitam que a primeira saudação de Os Verdes, nesta sessão do 25 de Abril, seja
dirigida a todas as mulheres e homens que rompem medos e silenciamentos e se erguem e empreendem na
luta pela dignidade de um povo inteiro. São muitas mulheres e homens que trabalham arduamente, são muitos
desempregados que querem tanto trabalhar e ajudar o País a produzir, são também muitos reformados que
deram e dão tanto ao País, são ainda tantos jovens procurando garantir futuro. São todos os que, recusando
amarras, usam a expressão livre do descontentamento em relação a políticas degradantes da vida de tantas
pessoas e reclamam alternativas de dignidade.