2 DE MAIO DE 2015
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sem laboratórios isentos, não há maneira de fazer contraditório relativamente a um conjunto de estudos e de
matérias, e isso deixa nas mãos das multinacionais que vendem estes produtos que sejam elas a terem a
única palavra sobre os mesmos. Por isso, os laboratórios públicos eram também o garante da salvaguarda da
saúde e do ambiente no nosso País e estão a ser destruídos.
Por último, este caso do glifosato põe a nu que as consequências da ação das multinacionais do
agronegócio é uma matéria em que há uma espécie de Tratado de Tordesilhas, para divisão do mundo entre a
Monsanto e a Syngenta sobre esta matéria, em que a atividade agrícola fica muito dependente dos seus
produtos.
Veja-se que, neste caso, a Monsanto comercializa o glifosato, mas também os organismos geneticamente
modificados (OGM) que são resistentes a este produto.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. João Ramos (PCP): — Por outro lado, o glifosato que a Monsanto comercializa parece ter
consequências para a saúde humana mas, depois, temos ainda o problema de que a agricultura não tem
outras soluções para além do glifosato.
Está aqui, claramente, montado um problema relativamente a esta matéria, e trata-se de um problema que
não é de fácil resolução.
O Sr. David Costa (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Claramente, não é um problema de fácil resolução, mas é um bom exemplo
de que o modelo do agronegócio que se tem vindo a instalar no nosso País não serve nem os interesses do
País nem os interesses dos portugueses.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Ramos (PCP): — Termino Sr. Presidente, dizendo que, pelo atrás exposto, é necessário fazer
algo — e há muito a fazer — para libertar o País deste tipo de situações.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.a Deputada Helena
Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que os argumentos estão expostos,
mas alguns são, infelizmente, do nosso ponto de vista, muito pouco sustentáveis.
Sr.a Deputada Maria José Moreno, tenho de lhe dizer uma coisa: os efeitos terapêuticos da cannabis em
doentes com cancro são bem conhecidos e inquestionáveis a nível mundial! Em relação ao glifosato, já não
podemos dizer o mesmo. Certo, Sr.a Deputada?! Portanto, vamos lá a acertar nos argumentos para este
debate.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Lamento que o Sr. Deputado Abel Baptista tenha dito que existem estudos
que desmentem os perigos deste pesticida e que até tenha dito que as instituições europeias, no caso a
Agência Europeia de Segurança Alimentar está a fazer os estudos necessários para o desmentir.
Ora, Sr. Deputado, deixa-me preocupada. Então o estudo não será independente?! Pelo menos, vamos
esperar pelo resultado do estudo, não vamos já antecipar a sua conclusão! Ou fazemos como os outros
estudos, encomendados pela indústria, pelas multinacionais e pela Monsanto, que se recusam a dar os dados
e os resultados para serem objeto de uma fiscalização independente!