2 DE MAIO DE 2015
39
Ocorre que a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro, da Organização Mundial de
Saúde, classificou o glifosato como um carcinogéneo provável para o ser humano — é esta a classificação que
o glifosato tem neste momento.
Está, assim, declarado o risco para a saúde pública, decorrente do glifosato ou da exposição ao glifosato,
estabelecendo-se uma relação entre este herbicida e o cancro. Esta relação não se estabelece, obviamente,
de ânimo leve, mas, sim, com base na existência e no reconhecimento de provas científicas credíveis e
suficientes.
Curiosamente, ou não, Sr.as
e Srs. Deputados, em Portugal, todos os anos surgem cerca de 1700 novos
casos do linfoma em causa, apresentando uma taxa de mortalidade superior à média da União Europeia.
O glifosato apresenta uma ligação próxima aos organismos geneticamente modificados (OGM), na medida
em que estes são resistentes ao herbicida em causa. Não por acaso, a Monsanto comercializa quer o glifosato
(sob a marca comercial Roundup) quer as variedades transgénicas. Eis um, para além de outros, dos grandes
riscos associados aos OGM — mais de 80% das plantas transgénicas, no mundo, foram modificadas,
justamente no sentido de resistir à aplicação do herbicida.
Para além disso, o glifosato tem utilização muito alargada na agricultura em geral, pode ser encontrado à
venda em grandes superfícies abertas ao público, para usos mais domésticos, e é amplamente usado na
limpeza de vias públicas e, também, em linhas de água, para controlo de infestantes.
Assim que foi tornada pública esta classificação do glifosato, Os Verdes colocaram, na Assembleia da
República, ao Sr. Primeiro-Ministro, a questão de saber o que pensaria o Governo fazer perante tal evidência
de ameaça à saúde pública e ao ambiente.
O Sr. Primeiro-Ministro respondeu no debate seguinte, dizendo que, estranhamente, não havia evidência
de que houvesse contaminação, que o risco provável de que essa contaminação pudesse acontecer não
estava plenamente evidenciado e que se iria iniciar uma investigação sobre a matéria.
Face a esta resposta, importa referir a evidência de que existe contaminação do glifosato e essa evidência
decorre da própria existência de legislação que lhe impõe limites de presença nos alimentos, havendo,
contudo, muitos aspetos onde nem sequer é analisada a sua presença, como na água. Isto, para já não falar
da pulverização a céu aberto e em grandes quantidades. Partir do pressuposto de que pode não haver
contaminação é, portanto, no mínimo, estranho.
Para além disso, a investigação anunciada pelo Sr. Primeiro-Ministro está feita pela Organização Mundial
de Saúde.
Nesse sentido, Sr. Presidente, Os Verdes apresentam à Assembleia da República um projeto de resolução
para que, rapidamente, se deem passos no sentido de interditar o glifosato.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O debate de hoje, pela proibição do
uso do glifosato, é baseado na necessidade urgente de proteger a saúde pública.
Vários estudos científicos estão feitos, tal como a avaliação da Organização Mundial de Saúde: o glifosato
é cancerígeno!
Já antes, várias organizações não governamentais europeias tinham entregue, em tribunal, um pedido para
obrigar a indústria a divulgar os seus estudos e os seus dados sobre este composto químico para que
pudessem ser avaliados por cientistas independentes. O pedido ainda não teve provimento. Mas a
Organização Mundial de Saúde não tem dúvidas em classificar o glifosato como cancerígeno.
Trata-se do herbicida mais utilizado no planeta e também no nosso País. É de venda livre e de fácil acesso
em Portugal. Aliás, basta ver a nova campanha publicitária do Roundup Gel, que patrocina filmes na televisão
portuguesa. É um pesticida designado para uso doméstico ao alcance de todos!
Este herbicida está relacionado com os organismos geneticamente modificados, já que vários OGM, em
especial da Monsanto, estão concebidos para serem resistentes ao glifosato, concretamente ao Roundup,
também, ele próprio, da Monsanto.