2 DE MAIO DE 2015
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Em relação a esta proposta de lei, ainda está muito por explicar, nomeadamente relativamente à atitude
titubeante do Governo em relação a este processo.
Os sucessivos atrasos no processo das renegociações para novos licenciamentos que até hoje não foram
cabalmente justificados pelo Governo da República, nem à Assembleia da República, nem ao próprio Governo
regional, nem à Assembleia Legislativa da Madeira, e mesmo perante a insistência de três requerimentos que
eu próprio fiz, ao abrigo das disposições regimentais, essa resposta ainda não chegou.
Trata-se de atrasos que são da inteira responsabilidade do Governo e não da Comissão Europeia, tal como
refere o Presidente da Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, que diz que a entrada em vigor do novo
regime para o Centro Nacional de Negócios e a inscrição de novas empresas dependia exclusivamente da
publicação de um diploma legal, tal como está a acontecer neste momento.
A propósito da maioria PSD/CDS, refira-se que o Governo e os seus dirigentes, durante quatro anos de
discursos e de promessas abundantes de que estavam ao lado do Centro Internacional de Negócios, geraram
junto do Governo regional e dos agentes económicos na Região um conjunto de expectativas que se
desvanecem com esta proposta de lei.
É caso para dizer «muita parra, pouca uva».
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Jacinto Serrão (PS): — Prometeram um regime mais competitivo e apresentam um regime mais
limitado e menos competitivo. Mantêm os mesmos constrangimentos, os pagamentos especiais por conta, as
mesmas limitações dos benefícios fiscais a conceder através dos plafonamentos e ainda acrescentam três
novas limitações fiscais.
Moral da história, Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Esperámos quatro anos com muita expetativa
sobre as promessas e os discursos da maioria e este regime é pior do que o anterior.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Os paraísos fiscais e
os centros offshore, além de favorecerem a fraude fiscal, o branqueamento de capitais e a criminalidade
financeira, reduzem a autonomia das políticas fiscais do Estado ao pressionarem a baixa dos impostos e a
desregulamentação.
Após a eclosão da crise financeira de 2008, muitas vozes se levantaram exigindo a extinção dos paraísos
fiscais. Contudo, apesar das boas intenções proclamadas na altura, os interesses do grande capital acabaram
por prevalecer e tudo continuou na mesma. Para as instituições da União Europeia e para os governos,
incluindo o Governo português, a plena liberdade de ação do capital é o valor supremo a acautelar.
Reconhecendo que Portugal não pode pôr fim a paraísos fiscais e a centros offshore localizados além das
suas fronteiras, entende o PCP que podemos e devemos começar por arrumar a casa, extinguindo o offshore
da Madeira. Tal decisão colocaria Portugal numa posição mais favorável para, no plano internacional, exigir a
extinção de todos os paraísos fiscais e centros offshore.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, contrariamente ao que afirmam os seus
defensores, a Zona Franca da Madeira não beneficia a economia regional nem o povo madeirense; beneficia
apenas uma elite, nacional e estrangeira, que a utiliza para fugir ao pagamento de impostos.
O Sr. Hugo Velosa (PSD): — Onde é que eu já ouvi isto?
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Quando o Governo diz que a Zona Franca da Madeira é responsável pela
criação de muitos postos de trabalho e pela arrecadação de uma importante receita fiscal o que está a fazer é
um bluff que não tem correspondência com a realidade. Os dados estatísticos disponíveis desmentem
cabalmente as afirmações do Governo. Os dados relativos a 2009 — último ano em que estas estatísticas
foram disponibilizadas pela Autoridade Tributária —, revelam que, das 6678 empresas aí registadas, 91% não