29 DE MAIO DE 2015
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança
Social, chegou a altura de fazer um balanço do mandato e nós vamos fazê-lo olhando para os dados desde o
final de 2011 até ao final de 2014 e o que encontrámos — já foi, aliás, muito repetido neste debate — foi aquilo
a que podemos chamar o «paradigma Mota Soares».
Qual é o «paradigma Mota Soares»? É o paradigma de um Governo que se congratula por ter reduzido o
número de desempregados em 73 000, desde o último trimestre de 2011, até ao último trimestre de 2014, mas
que, ao mesmo tempo, reduz 244 000 empregos. Como é que isto é possível? Como é que se reduz os
desempregados em 74 000, destruindo, ao mesmo tempo, entre aquele trimestre e o trimestre homólogo de
2014, 244 000 empregos? É o «paradigma Mota Soares».
Fomos olhar para a taxa de desemprego e fomos tentar compreender este paradigma. E o que
encontrámos Sr. Ministro foi o seguinte: se pegarmos no desemprego e ao desemprego adicionarmos todos
aqueles que desistiram de procurar emprego desde o último trimestre de 2011, constatamos que afinal o
Governo não reduziu 74 000 desempregados, só reduziu 18 000 desempregados; se pegarmos nesses 18 000
e acrescentarmos os estágios que o Governo criou nesse período, constatamos que afinal não reduziu 18 000
desempregados, afinal criou 24 000 desempregados; se pegarmos nesses 24 000 desempregados e
adicionarmos o trabalho socialmente necessário, ou seja, pessoas desempregadas ou a receber o RSI
(rendimento social de inserção) que têm de trabalhar à borla para o Estado, constatamos que afinal o Governo
não reduziu para 24 000 desempregados, já aumentou para 41 000 desempregados; e se juntarmos a esses
aqueles que o Governo atirou para o subemprego neste período, constatamos que afinal não temos 41 000
desempregados, temos 55 000 desempregados a mais desde o último trimestre de 2011.
Sr. Ministro, o seu Governo não destruiu desemprego, criou mais desemprego, criou mais precariedade,
criou mais estágios. Há, em 2015 — e eu não contei o desemprego que subiu em 2015 —, 1,245 milhões de
pessoas nesta situação, 25% da população ativa portuguesa está nesta situação.
Reformas estruturais, Sr. Ministro?! Frutos das reformas do Estado?! É esta a estratégia que o seu
Governo tem para combater o desemprego? É esperar que as pessoas desistam de procurar e saiam, sejam
varridas das estatísticas? É esperar que as pessoas desistam e procurem um part time por 300 € mesmo
declarando que isso não é suficiente para sobreviver e, por isso são considerados subempregados, mas estão
fora das estatísticas do desemprego? São os estágios?
É que, Sr. Ministro, no princípio havia a história de que os estágios eram para integrar jovens no mercado
de trabalho. É verdade, havia essa história no princípio, e em muitos casos foi verdade, mas hoje os estágios
são só uma forma de trabalho precário, subsidiado pelo Estado, metade dos estagiários já teve um emprego
antes. Onde é que está a narrativa da inserção no mercado de trabalho? Metade dos estagiários já teve um
emprego e está desempregado e tem como estágio a única forma de sobreviver. Há hoje desempregados de
longo prazo que acedem a estágios. Então o problema não era a inserção, o primeiro emprego? Como é que
estamos a dar estágios a pessoas que já trabalharam antes ou que já estiveram desempregadas um longo
período?
Sr. Ministro, nós queremos saber quanto é que o Governo gasta a pagar estágios à SONAE, à EDP, à PT,
ao BCP. Quanto é que o Governo gasta a pagar estágios a milhares de pessoas que trabalham e
desempenham funções permanentes e necessárias na função pública ao mesmo tempo que despede ou não
renova contratos de milhares de trabalhadores que fazem falta à Administração Pública?
Sr. Ministro, responda, por favor, quanto nos custa esta política de manipulação de sondagens para apagar
desempregados nas sondagens, criando precários — e hoje já nem precários—, estagiários, que nunca verão
um trabalho com direitos, um trabalho com contrato.
Sr. Ministro, há um site na Internet muito curioso e muito interessante de denúncia de estágios e de postos
de trabalho precário. O site chama-se Ganhem vergonha e, no fundo, Sr. Ministro essa é a mensagem que
queríamos deixar ao Governo.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos.