20 DE JUNHO DE 2015
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Sr. Primeiro-Ministro, é um mito urbano que o senhor disse, em dezembro de 2014, «(…) a crise não
agravou as desigualdades (…)»? Disse isto quando tudo está aí para demonstrar, desde a OCDE, à União
Europeia, que as desigualdades aumentaram e muito?
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Não se importa!
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Os mitos urbanos que o senhor define são palavras que o desmentem a si
próprio.
É lamentável, Sr. Primeiro-Ministro que, durante quatro anos, o senhor tenha dito estas e muitas outras
frases, que poderiam ser trazidas à colação, para fazer as políticas que tem feito e que conduziram o País ao
estado em que está e que consideramos que é extremamente negativo para os portugueses e para Portugal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — O Sr. Primeiro-Ministro já não dispõe de tempo para responder.
Com certeza aproveitará a sugestão do Sr. Deputado Ferro Rodrigues para, a propósito de outra intervenção,
poder prestar algum esclarecimento sobre estas matérias.
Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o senhor falou aqui de um
relatório sobre sistemas de saúde.
Pois o Relatório da Primavera do respetivo Observatório indica menos consultas nos cuidados de saúde
primários, que as taxas moderadoras são obstáculo ao acesso à saúde, que há dificuldades no acesso a
medicamentos devido à redução do poder de compra. Mas ao ouvi-lo parece que isto não existe, Sr. Primeiro-
Ministro. Onde é que está a verdade afinal? Este relatório é falso?
A minha segunda questão tem a ver com elementos que o INE apresentou, nomeadamente algumas
estimativas em relação à população. Aquilo que é mais relevante é o facto de que, em quatro anos,
abandonaram o nosso País cerca de meio milhão de portugueses, ou seja, 485 000 portugueses que tiveram
de emigrar. E emigraram porque aqui não havia saída para as suas vidas.
Ora, estes dados, para termos a dimensão exata, são superiores mesmo ao surto de emigração que existiu
na década de 60.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Aqui está, Sr. Primeiro-Ministro. Muitas vezes, temos terçado
argumentos com as questões do emprego, do desemprego, que sobe uma décima, que desce uma décima, e
sempre colocámos o problema do fator da emigração que pesa substancialmente em relação a essas taxas de
desemprego ou de emprego.
Não considera o Sr. Primeiro-Ministro — alguém duvida? — que a esmagadora maioria dos cerca de 135
000 emigrantes de 2014 eram trabalhadores desempregados ou jovens que há muito procuravam emprego?
Sr. Primeiro-Ministro, quer queira, quer não, isto são factos. O senhor falou da imigração, estou a falar da
emigração.
Numa deslocação que fizemos a Dusseldorf, perguntava-me um jovem emigrante se achava, tendo em
conta as promessas do Governo, que estavam reunidas as condições para voltar para Portugal para refazer a
sua vida. Não fui capaz de lhe dar essa garantia, Sr. Primeiro-Ministro, embora gostasse muito que
regressasse.
Mas aquilo que é significativo é que, no momento em que os senhores estão a falar com tanta força e tanta
propaganda de que agora estamos à beira de um final feliz, estamos no bom caminho,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — E estamos!