I SÉRIE — NÚMERO 107
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Considero muito importante a recomendação que é feita de se colocar no sítio do Parlamento todo o
espólio documental das comissões parlamentares de inquérito. Quem o consultar perceberá bem todas estas
perplexidades e incongruências.
A finalizar, agradeço, como Relator, o empenho de todos os partidos, do Sr. Presidente da Comissão, dos
funcionários da Assembleia e dos representantes dos familiares das vítimas nos trabalhos da nossa Comissão
de Inquérito. Acho que prestigiámos o Parlamento.
Quem sabe se um dia, num outro tempo, alguém nos possa trazer à memória o que levou a serem
cometidos estes crimes.
As famílias merecem que assim seja, o País exige que assim seja. Muito obrigado a todos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado Pedro do Ó Ramos, muito obrigado pelo seu trabalho.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Queremos começar por saudar o
Presidente e o Relator da X Comissão Parlamentar de Inquérito à Tragédia de Camarate pelo trabalho
realizado e pelo esforço feito.
Em segundo lugar, queremos dizer que há, no Relatório, dois aspetos que merecem a nossa crítica e
justificam a nossa abstenção.
Antes de passar às críticas, constatamos que grande parte do Relatório é inconclusivo. Assim, o PCP teve
razão quando se absteve quanto à criação da nova Comissão Parlamentar de Inquérito.
Não foi possível estabelecer um nexo de causalidade entre o Fundo de Defesa Militar do Ultramar e a
tragédia de Camarate. Contudo, as investigações a este Fundo de Defesa Militar do Ultramar permitiram
provar — e isso é relevante — que Portugal foi usado pelos Estados Unidos da América e por Israel como
plataforma para vender armas ao Irão durante o ano de 1980, altura em que vigorava o embargo internacional
ao Irão devido à chamada «crise dos reféns». Isto não é referido no Relatório, mas importa, para memória
futura, referir que os Estados Unidos e Israel furaram um embargo que eles próprios promoveram devido à
tomada de reféns americanos no Estado do Irão.
Também foi afirmado na Comissão Parlamentar de Inquérito que este Fundo de Defesa Militar do Ultramar
serviu para financiar a UNITA durante a guerra civil angolana, mas isto fica apenas para memória histórica.
Ficou provado que o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa impediu alguma venda de armas ao Irão e
que, cinco dias após a tragédia de Camarate, a venda de armas ao Irão continuou sob a tutela do Governo
AD, PSD/CDS-PP.
Por fim, há duas críticas a fazer a este Relatório.
Primeiro: o PCP considera as críticas feitas à Polícia Judiciária e à Procuradoria-Geral da República, a
propósito de uma investigação e de um processo disciplinar realizado há mais de 30 anos, completamente
desajustadas e injustificadas.
Mais: o Relatório da Comissão faz afirmações e tira conclusões taxativas relativamente à morte de uma das
testemunhas e sua esposa que são manifestamente desajustadas, não havendo sustentação suficiente. Nesta
parte, as conclusões da Comissão Parlamentear de Inquérito não prestigiam a Assembleia da República, não
prestigiam as comissões parlamentares de inquérito.
O segundo aspeto que merece a nossa crítica é o seguinte: a X Comissão Parlamentar de Inquérito à
Tragédia de Camarate é proposta por PSD e CDS devido à existência de testemunhas que afirmam ter
cometido o atentado. Estas testemunhas afirmam de forma coerente que o atentado que cometeram foi uma
encomenda dos Estados Unidos da América, da CIA, por causa da venda de armas ao Irão e das tentativas de
impedir essas mesmas vendas e que foi executado por elementos ligados à CIA e à CODECO (Comandos
Operacionais de Defesa da Civilização Ocidental), a organização terrorista ligada à direita mais reacionária
que operou em Portugal após o 25 de abril e que se dedicou, entre outras coisas, a pôr bombas nos centros
de trabalho do Partido Comunista Português.