I SÉRIE — NÚMERO 107
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exportação de armas para o Irão, País com que Portugal havia cortado qualquer relação comercial. Cinco dias
após o atentado, a 9 de dezembro, e mais tarde, a 26 de janeiro de 1981, apurou-se a existência de
exportação de armas para o país em causa.
Ficou provada a preocupação do Ministro da Defesa face às irregularidades no funcionamento do Fundo de
Defesa Militar do Ultramar e quanto ao tráfico de armamento em Portugal.
O Eng.º José Moreira, considerado como um testemunho importante para a I Comissão de Inquérito, foi
encontrado morto, juntamente com a sua companheira, no dia 5 de janeiro de 1981, desta forma não se
concretizando o seu depoimento. Na época, a Polícia Judiciária e o Ministério Público concluíram ter-se
tratado de uma morte acidental em nada relacionada com o atentado de Camarate. Os trabalhos da X
Comissão de Inquérito permitiram comprovar que se tratou efetivamente de um duplo homicídio e que os
órgãos de Polícia Criminal, injustificadamente, não trataram o caso com a diligência e a eficiência que se
impunham.
O acesso ao espólio completo das imagens recolhidas pela RTP na noite de 4 de dezembro foi dificultada à
X Comissão de Inquérito e, quando finalmente foi disponibilizado, confirmou-se o desaparecimento de parte
substancial das imagens.
Estas referidas e mais destacadas conclusões não permitiram estabelecer um nexo de causalidade
comprovado com o atentado de Camarate.
Julgo que se trata do fim da linha que sobeja e que se encontra obstaculizado devido ao passar do tempo,
devido à memória, infelizmente, seletiva de alguns dos depoentes nos trabalhos da X Comissão, ao
desconhecimento que depoimentos de pessoas não identificadas poderiam trazer, à impossibilidade de
localização de algumas pessoas devidamente identificadas como relevantes para o esclarecimento da verdade
e à dificuldade de acesso a documentos considerados necessários pela Comissão e que, por diversos
motivos, não foram disponibilizados.
No fim dos trabalhos, entenderam o PSD, o PS e o CDS-PP propor a esta Assembleia a aprovação das
seguintes recomendações: a salvaguarda do acervo documental do Fundo de Defesa Militar do Ultramar e a
criação de um arquivo completo sobre Camarate, digitalizado, contendo todo o espólio documental e a
colocação online no sítio do Parlamento para acesso público geral; a abertura de um inquérito pelo Governo
que permita estabelecer o desaparecimento dos arquivos do Estado-Maior-General das Forças Armadas, do
Ministério da Defesa Nacional e do Ministério dos Negócios Estrangeiros da correspondência oficial cruzada
entre estes três organismos com referência à exportação de material de guerra para o Irão.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
Cabe, justamente, e por último, reconhecer o espírito de cooperação e de dedicação dos diversos grupos
parlamentares, do Presidente da X Comissão de Inquérito, Deputado José Matos Rosa, dos assessores dos
grupos parlamentares mais envolvidos e do corpo técnico da Assembleia que apoiou os trabalhos e que
permitiu uma concentração positiva nas questões essenciais e fundamentais.
Todos dedicaram longas horas de estudo e de análise e certamente partilham comigo e com os meus
colegas do Grupo Parlamentar do PSD um sentimento de dever cumprido.
Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e as demais vítimas permanecerão para todo o sempre na
nossa memória e na história de Portugal. Esse é um legado que ninguém poderá apagar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Oneto.
A Sr.ª Isabel Oneto (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A X Comissão Parlamentar de
Inquérito à Tragédia de Camarate terminou com as conclusões já conhecidas por todos, sendo que nos
compete, acima de tudo, salientar o papel que nesta Comissão teve o Sr. Presidente, Deputado Matos Rosa,
pela forma como conduziu os trabalhos.