22 DE SETEMBRO DE 2016
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os hidrocarbonetos, que, como se viu recentemente e se está a ver, sofre uma enorme contestação por parte
da população portuguesa, em particular no Algarve.
Sintomaticamente, a lei clarifica a questão do conflito de usos e atividades no espaço marítimo e define as
suas prioridades de maneira absolutamente predatória. Os propósitos de lucro sobrepõem-se a quaisquer
outros, ignorando mesmo a pesca extrativa que, desde tempos ancestrais, alimenta milhares de famílias. Poder-
se-á dizer que é o custo do progresso. Mas o progresso não pode ser a qualquer preço.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Carlos Matias (BE): — A lei de bases que abriu o campo a esta nova proposta não zela nem defende
as atividades desenvolvidas de forma histórica, como a pesca tradicional, importante força empregadora e matriz
identitária das comunidades.
O que hoje temos em mãos também omite a sua existência. O mínimo exigível era que para o licenciamento
da exploração de uma parcela de espaço marítimo fosse condição necessária uma avaliação de impacto junto
das populações e organizações afetadas. Sobre isso, nada é referido.
Pelo contrário, esta iniciativa parece ignorar todo um setor cujo tecido empresarial é feito de micro e pequenas
empresas, com pouca capacidade de negociação. A omissão da sua consulta obrigatória, a manter-se, será
uma opção que não acompanhamos. Além desta, temos outras reservas que gostaríamos de ver resolvidas.
Os prazos de concessão são desnecessariamente longos, a nosso ver. Estamos a falar de 25 anos que
podem automaticamente ser prolongados até 50. Terão também de ser fixados limites máximos para as áreas
a atribuir para a aquicultura.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe para concluir.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Vou concluir, Sr. Presidente.
Já os prazos processuais são excessivamente apertados. De resto, achamos que os projetos deverão ser
colocados em consulta pública e defendidos os direitos dos pescadores.
Em suma, a nova lei, para ser justa, deverá compatibilizar a aquicultura, a pesca e a defesa do ambiente,
como a Sr.ª Ministra ainda há pouco disse.
Gostaríamos de acompanhar o Governo, se a mudança já apontasse claramente nesse sentido. De outra
forma, tal como está neste momento, ainda não poderemos acompanhar a iniciativa proposta.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A avaliação que o
PCP faz da situação do País e da evolução da nossa economia aponta as causas ao processo de destruição
dos setores produtivos com a consequente redução da produção nacional.
Por isso, a inversão da situação económica e social do País passa pela defesa dos setores produtivos e da
produção nacional, nomeadamente o desenvolvimento dos setores primários e de produção alimentar também
como forma de garantia da soberania e segurança alimentar.
Neste contexto, o PCP tem defendido o desenvolvimento da aquacultura e, como tal, ainda no compromisso
eleitoral para as legislativas de 2015, inscreveu o «reforço da aquacultura, face às condições naturais propícias».
Tal como entende fundamental o aproveitamento e valorização interna dos recursos endógenos do País e entre
estes recursos identifica a aquacultura.
O PCP acompanha a necessidade de medidas para promover o desenvolvimento deste setor produtivo,
medidas essas que garantam o equilíbrio entre a necessidade e as condições para produzir e o seu
desenvolvimento em espaço de domínio público, salvaguardando o interesse de ambos, e que compatibilizem
as diferentes utilizações dos territórios e dos meios em que as atividades se desenvolvem, garantindo que o
desenvolvimento da aquacultura não se faça à custa dos direitos históricos da pesca artesanal e costeira.