23 DE SETEMBRO DE 2016
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O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro, se
estivéssemos noutro sítio, até diria que a sua intervenção tinha alguma graça, mas aqui, no Parlamento, não lhe
acho graça nenhuma.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
E vou dizer-lhe porquê. Não vejo nenhum mérito em negar a realidade. O Sr. Primeiro-Ministro veio aqui
dizer-nos que vivíamos de três mitos.
Primeiro, o mito de que a economia não estava a crescer. Ficámos a saber pelo Sr. Primeiro-Ministro que,
ao contrário do que está documentado — quer pelo Banco de Portugal, quer pelo Instituto Nacional de
Estatística, quer por todas as outras autoridades que se pronunciam sobre esta matéria —, em 2014 e em 2015
a economia de Portugal não estava a crescer.
Segundo mito: diz o Sr. Primeiro-Ministro que as exportações têm vindo a aumentar. É uma novidade! Nós
temos vindo a ouvir as notícias que vão sendo divulgadas, quer pelo Instituto Nacional de Estatística, quer pelo
Banco de Portugal, e ficámos a saber o contrário. Mas o Sr. Primeiro-Ministro tem outras fontes de informação
e, portanto, as exportações estão a aumentar e a economia está a crescer a um ritmo superior àquele que se
projetava em 2015!…
Finalmente, diz o Sr. Primeiro-Ministro que o investimento estava a cair no passado e que é um mito que
tivesse aumentado. O investimento caía em Portugal, caía por via do investimento privado e por via do
investimento público.
Sr. Primeiro-Ministro, sucede que quando nós olhamos para os dados também não podemos sustentar isto.
É exatamente ao contrário, e isto vem confirmado no próprio documento de orientação plurianual de estratégia
orçamental que os senhores apresentaram em Bruxelas e aqui, no Parlamento, e na altura perante investidas
políticas assim semelhantes às suas, um pouco mais comicieiras, que davam conta do seguinte: «Não, não, o
que se vier a passar de mal é porque já vinha de trás, o que se passar de bom deve-se sempre a nós,
evidentemente.» Nós chamámos a atenção: «Ouçam lá, com tanta coisa de mal que vem de trás, não é melhor
reverem as projeções? Não será melhor apontarem num crescimento diferente?». E dizia o Sr. Primeiro-Ministro:
«Não, não, isso já está tudo previsto, já temos resposta para esses problemas todos!». Mas os resultados não
evidenciam isso, Sr. Primeiro-Ministro.
Olho também, em particular, para um relatório que foi divulgado há pouco tempo por uma Unidade Técnica
do Parlamento, que, a propósito do que se está a passar com a Infraestruturas de Portugal, dava conta de que
as transferências de receita que estão relacionadas com a contribuição de serviço rodoviário, o que deve ser
feito, evidentemente, pelo Ministério das Finanças, pelo Governo, para a Infraestruturas de Portugal, de janeiro
a julho evidenciavam um comportamento medíocre: em 2015, tinham sido transferidos 156 milhões e, em 2016,
tinham sido transferidos 35 milhões.
Sr. Primeiro-Ministro, o que é que aconteceu à contribuição rodoviária? Onde é que ela está?
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Evaporou-se!
O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Porque é que não é transferida para a Infraestruturas de Portugal?
O que é que a Infraestruturas de Portugal está a deixar de fazer? Porque é que essa receita não é
disponibilizada? Que efeito é que isto tem sobre as contas públicas do primeiro semestre e que efeitos terá no
segundo semestre se essa transferência vier a ser feita?
Gostava de o ouvir falar sobre estas realidades, porque é isto que permite demonstrar, em primeiro lugar,
que o Sr. Primeiro-Ministro, ao contrário daquilo que diz, está a retratar a realidade como se ela fosse outra, e
isso é perigoso. Ter governantes que gostam de ver as coisas como elas não são paga-se caro! E nós, Sr.
Primeiro-Ministro, pagámos isso muito caro durante uns anos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Aquele desastre social que o senhor aponta nos rendimentos dos portugueses foi um desastre social que,
como diz a Fundação Manuel dos Santos, e bem, começou — imagine, Sr. Primeiro-Ministro! — em 2010. E eu