I SÉRIE — NÚMERO 8
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Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Ana Virgínia Pereira (PCP): — O esquema europeu de transações também não foi capaz de levar à
redução dos gases com efeito de estufa, contradizendo a bondade da regulação do mercado, ratificando tão-só
a obtenção do lucro, a acumulação de riqueza e o aprofundamento das desigualdades.
O conceito de neutralidade de emissões, apostado nos sumidouros de CO2 (florestas e outros métodos),
arrisca-se a ser um mecanismo que não combate a emissão de gases com efeito de estufa por encerrar a
potencialidade de destruir a floresta autóctone dos países em desenvolvimento, por ação de grandes
multinacionais.
Em suma, os maiores responsáveis pela produção de gases com efeito de estufa, os países mais
desenvolvidos, libertam-se da resolução dos problemas ambientais, passando o ónus do combate aos gases
com efeito de estufa para os cidadãos individuais, e compram a sua «desresponsabilidade». Este caminho não
é solução.
O PCP considera que as emissões que contribuem para o efeito de estufa são um problema grave e propõe,
na iniciativa que traz hoje a debate, a defesa da produção local, reduzindo a amplitude dos ciclos de produção
e consumo, contrariando a liberalização do comércio mundial.
Defende o reforço dos meios do Estado, de forma a colocar a riqueza natural ao serviço do País e do povo,
bem como o reforço de medidas que aumentem a eficiência energética de domínio público.
O investimento nos transportes coletivos e uma justa distribuição dos esforços de limitação na produção de
gás, através de um normativo específico sem recurso a instrumentos como o de atribuição de licenças, fazem
parte da recomendação do PCP por uma política da natureza em defesa do povo e do País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os Verdes.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Ambiente, Sr.as e Srs. Secretários de
Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Quando em dezembro do ano passado se chegou, na COP-21, ao acordo sobre
o clima, que agora ficou conhecido por Acordo de Paris, Os Verdes consideraram que foi positivo atingir esse
Acordo, mas não ficámos muito entusiasmados relativamente ao resultado do mesmo. Acho que devemos ler
este Acordo com alguma cautela, porque, se, por um lado, o aspeto positivo do Acordo é ter havido uma
perceção e um compromisso a nível mundial, designadamente dos maiores emissores de gases com efeito de
estufa — e o maior deles per capita são os Estados Unidos da América, que tinham ficado de fora do Protocolo
de Quioto —, de que as alterações climáticas são, de facto, algo para levar a sério e de que é preciso um
empenho por parte de todos no combate ou, pelo menos, em minimizar este fenómeno, por outro lado, o que o
Acordo estabelece é, na nossa perspetiva, muito frágil. É frágil porque as metas não são vinculativas; é frágil
porque não estão estabelecidas condições de cumprimento dessas metas, mesmo não vinculativas, nem está
garantida uma prossecução de justiça social e ambiental por via deste combate às alterações climáticas; é frágil
porque está estabelecido ou vamos continuar a assistir à implementação de um mercado de carbono, que é uma
negociata que não garante, de facto, como já está provado, a redução efetiva dos gases com efeito de estufa.
Por isso, na nossa perspetiva, há aqui fragilidades que não nos deixam descansados relativamente a esta
matéria, fundamentalmente quando a comunidade científica, a nível mundial, nos garante que as alterações
climáticas são um fenómeno que já está implementado no planeta e que, no caso de não se tomarem medidas
adequadas, haverá uma subida significativa do nível dos mares e uma intensificação dos extremos climáticos,
atingindo, fundamentalmente, as zonas mais vulneráveis do planeta, o que significa que os mais pobres serão
mais afetados e também que poderemos ter vagas de refugiados em número muito significativo devido a
problemas ambientais graves.
Portanto, o mundo tem de acordar para isto, mas tem de acordar de uma forma mais determinada, na nossa
perspetiva.
Significa isto que Os Verdes consideram que não é importante a ratificação do Acordo de Paris? De maneira
nenhuma! Consideramos que Portugal deve dar o seu contributo, ao nível da União Europeia, que depois, no