I SÉRIE — NÚMERO 9
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da estabilidade quando o CDS foi conivente com a destruição do currículo nacional? E, agora, vamos legislar
sobre ciclos de estudo sem pensar o currículo?
Está em curso um trabalho, liderado pelo Dr. Guilherme de Oliveira Martins, para definir um perfil de
competências do aluno à saída do 12º ano, evoluindo de uma abordagem curricular fragmentária, fechada nas
disciplinas, para uma abordagem global, integrada, definindo aprendizagens essenciais, bem como
competências sociais e relacionais que predisponham para aprender ao longo da vida. Um trabalho que
permitirá, depois, uma gestão flexível, contextualizada e integrada do currículo. E, entretanto, tomamos já
decisões que se atravessem no caminho desse trabalho?
Esta proposta do CDS erra no tempo, erra no método e, também, erra no foco. É preciso pensar a partir das
aprendizagens. E é preciso pensar a partir do futuro: que escola queremos para o século XXI?
Há caminhos da Lei de Bases ainda insuficientemente concretizados, por exemplo no que diz respeito à
educação para a cidadania, ao desenvolvimento da autonomia dos alunos, à formação da capacidade e do gosto
pela contínua atualização de conhecimentos. Porque é que o projeto do CDS nada diz sobre isto? Tal como
nada diz sobre educação de adultos, educação permanente e aprendizagem ao longo da vida. Talvez porque,
se dissesse, não teriam coragem de vir ao mesmo tempo falar de estabilidade.
Aplausos do PS.
E por que é que não dizem nada sobre estas questões? Por não caberem numa agenda ideológica
demasiado estreita? Mas, então, como querem entrar num processo de construção de convergências?
Insisto, precisamos pensar a partir do futuro. Ou seja, que escola queremos para o século XXI? É que a
escola do século XXI não será apenas uma escola com outra organização, por exemplo menos espartilhada por
disciplinas e com mais trabalho integrado por projetos. Nem será apenas uma escola com outras tecnologias.
Será também uma escola com outros valores e com outro compromisso com os direitos de cidadania. Será uma
escola contra as desigualdades, pela igualdade, onde, para lá do direito ao acesso, temos de avançar mais no
direito ao sucesso, renovar uma batalha pelo direito de acesso ao sucesso. Mas isto não cabe, verdadeiramente,
nesta apressada proposta do CDS.
Sr.as e Srs. Deputados, no conjunto, o que o CDS nos propõe são peçassoltas. No dizer do CDS, são «quatro
grandes alterações», em parte apropriando-se de ideias em debate público, em parte respondendo a interesses
particulares. Mas não é disso que precisamos. Precisamos de novos compromissos, assentes numa visão de
conjunto do sistema educativo capaz de contribuir ainda melhor para o País que queremos, onde se cumpra e
honre a Constituição da República.
Para construirmos democraticamente essa resposta precisamos de uma metodologia adequada, capaz de
nos ajudar a construir entendimentos progressivamente alargados. Há que definir um calendário, uma agenda,
um processo de auscultação entre partidos e, também, entre parceiros sociais e associações representativas
dos atores relevantes; encontrar métodos para usar o conhecimento disponível ou a construir, incluindo o recurso
à experiência internacional para clarificar questões e caminhos. E isso é em tudo diferente do modo oraescolhido
pelo CDS.
O Partido Socialista compromete-se, hoje e aqui, a esperar que termine o ciclo atualmente em curso no
Conselho Nacional de Educação sobre a Lei de Bases do Sistema Educativo …
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — É em janeiro!
O Sr. Porfírio Silva (PS): — … e, depois de terem sido extraídas as conclusões desse trabalho, compromete-
se contribuir para que a Assembleia da República adote uma metodologia que nos permita participar ativamente
num diálogo sistemático com a sociedade, orientado para identificar, construir e consolidar convergências e para
aplanar divergências, com o sentido da responsabilidade que a educação nos exige. O sentido da
responsabilidade que, a nosso ver, não iluminou esta iniciativa do CDS.
Aplausos do PS.