29 DE NOVEMBRO DE 2016
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Com essa alteração, pretendeu-se também resolver um conjunto de problemas, nomeadamente um, que se
arrasta há vários anos, relativo à reivindicação, em alguns municípios, ou oposição, noutros, a que os imóveis
situados em centros históricos classificados pela UNESCO sejam objeto de tributação em IMI. A nossa solução
é, simplesmente, que devem ser os municípios, e não o Parlamento, a decidir, caso a caso, se essa isenção se
justifica, ou seja, se devem pagar menos imposto aqueles que têm imóveis nos centros históricos ou, se
quiserem, se devem pagar mais imposto aqueles que não têm imóveis em centros históricos, porque essa é
sempre uma contrapartida da isenção.
Neste artigo 172.º há duas propostas em discussão para as quais queria chamar a atenção. Além de o
Governo ser contra elas substancialmente, na configuração que têm, quanto a mim, representam consequências
muito graves, na medida em que é feita uma isenção na lei relativa aos imóveis em centros históricos e é dado
um efeito interpretativo desde 2001, o que significa, Srs. Deputados, que todos os contribuintes que tivessem
pago o imposto desde 2001 poderiam agora pôr em causa essas liquidações. E este pôr em causa seria feito
automaticamente quanto às liquidações dos últimos quatro anos.
Ora, isto significa que alguns dos municípios que não entendem que se justifique tal isenção seriam privados
de receitas de impostos municipais e, em alguns casos, seriam privados dessas receitas durante vários anos.
E, aliás, em municípios como Angra do Heroísmo ou Elvas, que se têm pronunciado contra esta isenção, o IMI
do tal centro histórico é, verdadeiramente, o IMI de quase todo o tecido urbano e constitui, portanto, a maior
parte do IMI desses municípios.
Assim, queria chamar a atenção da Câmara para as consequências da aprovação destas propostas de
alteração ao Código do IMI, consequências essas, note-se, não para as finanças do Governo mas para as
finanças desses municípios, que, por um mecanismo de compensação, se veriam privados, contra a sua
vontade, da totalidade das suas receitas fiscais.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Agora sim, passamos à discussão do artigo 173.º — Aditamento ao Estatuto dos
Benefícios Fiscais.
Para intervir, em nome do Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra a Sr.ª Deputada Hortense Martins.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos
no último dia de debate na especialidade do Orçamento, cujo objetivo é melhorarmos, nesta sede, a proposta
de lei que o Governo nos apresentou.
Este é um Orçamento que pretende ser amigo das empresas e que reforça a coesão territorial, reduzindo
para 12,5% a taxa de IRC para as empresas que exercem a sua atividade nos territórios do interior.
Lembro que, já no passado, o PS defendeu uma taxa de IRC mais reduzida para as PME, tendo em conta o
nosso tecido empresarial, e, por isso, foi instituída uma taxa de 17,5%, até 15 000 €, em todo o território nacional.
Ora, este Orçamento introduz uma discriminação positiva, passando esta taxa para 12,5% para as empresas
que exerçam a sua atividade nestes territórios do interior, que precisam de um apoio efetivo para
proporcionarmos um maior desenvolvimento.
Para nós, a coesão territorial e a coesão social são valores essenciais das políticas públicas, porque
conhecemos o País e as dificuldades reais das pessoas e de certos territórios, e sabemos que, naturalmente,
esta medida também teria de abranger as microempresas, pelo que apresentamos esta proposta de alteração.
Fazemos diferente porque temos outro caminho. O anterior Governo acabou com o estatuto dos benefícios
fiscais para o interior, criado pelo Partido Socialista, e neste Orçamento PSD e CDS não apresentam qualquer
proposta neste sentido. Onde é que estão as propostas do PSD e do CDS para diminuir a taxa de IRC para o
interior?! Onde é que estão as propostas que introduzem discriminação positiva para estes territórios?! Onde é
que estão os apoios ao desenvolvimento para os tais territórios de baixa densidade de que os Srs. Deputados
tanto falaram na especialidade? Zero propostas, Sr.as e Srs. Deputados!
Aplausos do PS.
Protestos do PSD.