I SÉRIE — NÚMERO 41
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Une-nos também a nossa pertença às Nações Unidas. Fiéis à sua Carta, e cito, «reafirmamos a fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade dos direitos dos homens e
das mulheres e das nações grandes e pequenas». Daí o nosso esforço pela solidariedade. Quanto mais alargada
e geral for a dignidade do ser humano, melhor estarão portugueses e espanhóis.
Falo das Nações Unidas, que felizmente elegeram por aclamação — com o ativo e entusiástico apoio de
Espanha a partir do Conselho de Segurança — o Eng.º António Guterres como novo Secretário-Geral. Esta
eleição recaiu, sem dúvida, no melhor candidato — e comemorámo-la com «olhos de criança e alma de
portuguesa», como disse o nosso dramaturgo Lope de Vega a uma das suas personagens espanholas —, pois
foi eleito tanto pelas suas qualidades provadas, como porque poucas pessoas de qualquer outro país como
Portugal contribuem para o concerto das nações com a sensibilidade histórica e espiritual que inclui notas dos
cinco continentes. Estou certo de que o seu mandato nas Nações Unidas impulsionará, com força e convicção,
os valores universais que, num mundo tão complexo e incerto, é cada dia mais necessário defender, promover
e assegurar.
Com igual vontade e compromisso e com o vínculo comum da história partilhada, Espanha e Portugal, a par
dos restantes países da Ibero-América, quiseram promover e estreitar laços políticos, económicos e culturais.
Instituímos, em 1991, a Conferência Ibero-Americana, máxima expressão da Comunidade Ibero-Americana das
Nações, como um espaço no qual os 22 países concertaram a vontade política dos seus Governos e
aproximaram ainda mais os nossos respetivos povos graças às afinidades culturais e idiomáticas.
Portugueses e espanhóis sabem que, quanto mais próspera for a Ibero-América, mais próspera será a nossa
comum terra ibérica. Mas desejam também, com a sua prosperidade — e com a europeia —, contribuir para a
das nações irmãs da Ibero-América.
Essa dimensão americana dos nossos dois países, essa força que nos une de novo ao Atlântico leva-me a
falar de outros dois imensos valores das nossas nações que ultrapassam o âmbito americano e europeu para
se estenderem por toda a Terra. Refiro-me à nossa língua, à língua espanhola e à língua portuguesa, que
partilhamos com muitas outras nações.
Como tive oportunidade de mencionar na minha visita a Portugal, apenas alguns dias depois da minha
proclamação como Rei de Espanha, a semelhança entre as nossas duas grandes línguas constitui uma das
bases fundamentais da nossa força e da nossa singularidade.
Graças a essa afinidade, podemos reconhecer hoje a existência de um grande espaço linguístico composto
por uma trintena de países de todos os continentes e por mais de 750 milhões de pessoas. Trata-se de um
espaço formidável, de alcance e projeção universal, que não devemos perder de vista no mundo crescentemente
globalizado dos nossos dias. Deste modo, cada vez que a língua espanhola e a portuguesa se tornam mais
universais, mais universais se tornam Portugal e Espanha.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esses lugares que partilhamos no mundo assentam numa realidade fecunda,
viva e em contínuo progresso. É a realidade de relações bilaterais sólidas, diria incomparáveis. Nomeá-las a
todas, enumerar os intercâmbios hispano-portugueses, seria nomear o oceano: não há vertente da vida pública
ou da sociedade civil que escape a essa intensificação constante, com pleno respeito pelas respetivas
identidades e soberanias nacionais.
Ano após ano, a partir de 1983, as cimeiras entre os nossos dois países somam novos vínculos. Gostaria de
lembrar os mais recentes:
No âmbito da segurança e da defesa, destaca-se a assinatura do acordo de cooperação bilateral e a nossa
ativa presença na coligação internacional de luta contra a organização terrorista Daesh.
A tranquilidade dos portugueses e dos espanhóis muito deve ao trabalho, lado a lado, das nossas respetivas
Forças Armadas, Forças de Segurança e Serviços de Inteligência, na luta contra o terrorismo, contra a
delinquência e também contra a imigração irregular.
O nosso progresso mútuo em matéria económica assenta em valores sem igual: Espanha é o primeiro
parceiro de Portugal, que, por sua vez, como parceiro comercial de Espanha, ultrapassa o conjunto da Ibero-
América. São realidades em crescimento como referi ontem no encontro com empresários dos nossos dois
países, no Porto.
Nos últimos anos, tanto Espanha como Portugal sofreram uma crise económica que afetou gravemente os
nossos cidadãos. Atualmente, as nossas economias retomaram a via do crescimento e continuar a trabalhar