I SÉRIE — NÚMERO 26
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sólido e merece que este debate seja feito com serenidade e com responsabilidade. É lamentável que o PSD,
ao longo de todo este processo, tenha vindo a contribuir para fazer o contrário.
Aplausos do BE.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Lamentável é mudarem de posição, por conveniência!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Creio que já todos
percebemos que esta súbita e repentina preocupação, por parte do PSD e do CDS, relativamente aos gestores
públicos é, no mínimo, muito duvidosa. Até diria que não é necessário ser o nobel do «adivinhanço» para
perceber as reais intenções do PSD e do CDS nesta matéria — mais do PSD do que do CDS, é verdade.
Percebe-se bem que o que se pretende nada tem a ver com a defesa ou a afirmação do interesse público ao
nível do Estatuto dos Gestores Públicos. Não tem nada a ver com os vencimentos, nem com a transparência.
O que se pretende é fazer render o peixe. O que o PSD pretende é continuar a dar corda à novela Caixa
Geral de Depósitos, que inventaram.
Protestos do PSD.
Enquanto discutíamos o Orçamento do Estado, houve até momentos em que o PSD discutia a Caixa Geral
de Depósitos. Houve até momentos em que se pensou que aquilo que estava em discussão não era o
Orçamento do Estado para 2017, mas, sim, o Orçamento do Estado da Caixa Geral de Depósitos.
Bem sabemos o que pensa o PSD sobre a recapitalização da Caixa e os esforços que tem vindo a fazer para
fragilizar o processo de recapitalização e para fragilizar a própria Caixa Geral de Depósitos. E bem sabemos
também a «simpatia» com que o PSD olha para a natureza pública da Caixa Geral de Depósitos — e este é que
é o problema. Nós sabemos isso tudo.
Também sabemos por que chamamos de «repentina e súbita» a preocupação, sobretudo do PSD, em
matéria de gestores públicos. Exemplos não faltam.
Ao nível dos vencimentos, já foi aqui falado, por várias vezes, o caso do ex-Secretário de Estado do Governo
PSD/CDS, Sérgio Monteiro, no Novo Banco.
E também poderíamos falar dos vencimentos dos administradores da Autoridade Nacional da Aviação Civil
(ANAC), que, de um dia para o outro, triplicaram os seus salários e, ainda por cima, com efeitos retroativos, algo
que ainda estamos para compreender. E, agora, podem dizer-nos: «Sim, mas isso foi a comissão de
vencimentos». É verdade. Mas também é verdade que, dessa comissão de vencimentos, constituída por três
membros, dois deles foram indicados pelo Governo PSD/CDS, a saber, um, pelo Ministro das Finanças e, outro,
pelo Ministro da Economia.
Portanto, creio que fica clara a dimensão da responsabilidade do Governo PSD/CDS neste aumento salarial,
absolutamente imoral, dos administradores da ANAC, que ainda tem uma outra nuance, já que se fala também
de transparência, que é outra preocupação do PSD e do CDS ao nível da transparência dos gestores públicos.
É que, hoje, estão muito preocupados com a transparência, mas a verdade é que nomearam gestores públicos,
pelo menos para autoridades administrativas independentes, com o parecer negativo da CRESAP (Comissão
de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública).
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É mentira!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — É verdade, Sr. Deputado Hélder Amaral! Sabe muito bem, porque
até foi lá reunir com eles!
E, num caso, foi nomeada uma administradora pelo Governo PSD/CDS sem essa nomeação ter passado
pela Assembleia da República.