I SÉRIE — NÚMERO 31
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Na verdade, parece-nos que o prolongamento das atividades letivas por mais duas semanas não beneficia,
em termos pedagógicos, a aprendizagem das crianças — até porque elas já passam demasiado tempo com as
atividades letivas —, especialmente tendo em conta as suas idades e a fase de desenvolvimento cognitivo em
que se encontram. Não queremos e acreditamos que não será desejo de ninguém que as crianças encarem a
escola como um espaço e um tempo de saturação e que vão desenvolvendo algum tipo de renitência para com
a mesma.
No ensino pré-escolar a diferença em relação ao 1.º ciclo é de mais de uma semana de aulas. O PCP
considera que a existência de calendários escolares distintos impede, na prática, a planificação, avaliação e
articulação entre a educação pré-escolar e o 1.º ciclo do ensino básico, o que acaba por contrariar o que vem
no despacho do Ministério da Educação, em termos da garantia do acompanhamento pedagógico das crianças
no seu percurso entre aqueles níveis de educação e de ensino.
O PCP está consciente das dificuldades das famílias em responder aos problemas sociais perante os quais
estas são colocadas e consideram legítimas e justas as suas preocupações. Entendemos, porém, que é
necessário encontrar a devida resposta social pública. Temos vindo a acompanhar as preocupações
manifestadas pela comunidade escolar nestas matérias relativas ao calendário, em particular quanto às
diferenças existentes na determinação da atividade letiva para a educação pré-escolar e para os diversos ciclos
no ensino básico.
Já apresentámos propostas na perspetiva da resolução desta questão, que persiste, e hoje, com a presente
iniciativa, o PCP propõe que o Governo uniformize o calendário escolar da educação pré-escolar e do ensino
básico.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Mortágua, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda gostaria de
saudar os quase 5000 peticionários, na certeza de que eles representam muito mais professores e educadores
na preocupação já referida, que o Bloco de Esquerda acompanha e que, por isso, apresenta um projeto de
resolução.
Trata-se de uma preocupação relativa à definição do calendário escolar das crianças no sentido de que esta
tenha um critério pedagógico e não seja uma resposta social que, na verdade, não são estas estruturas, estes
docentes que têm de a dar.
Em 2002, começou esta distinção entre o calendário pré-escolar e o dos restantes ciclos do ensino básico.
Na altura, a justificação dada foi precisamente a ideia de que caberia aos docentes do pré-escolar a resposta
social para as crianças durante as interrupções letivas.
Ora, os sindicatos consideram que esta visão está na base de uma discriminação em relação a estes
docentes, já que tanto a Lei de Bases, em 1986, como toda a legislação posterior vieram encarar o pré-escolar
não como uma resposta social, não como uma resposta de cariz assistencial à família, mas como um serviço
público de educação, e, portanto, como tendo um papel, uma função no sistema educativo. A Lei-Quadro da
Educação Pré-Escolar diz mesmo que esta é a primeira etapa na educação básica no processo de educação
ao longo da vida.
Este Governo também já reconheceu a importância do ensino pré-escolar, por isso decidiu universalizá-lo a
todas as crianças. Ele é determinante no sucesso escolar posterior das crianças. Esse diagnóstico está feito.
No âmbito desta valorização do pré-escolar, achamos, como acham os peticionários, que não pode haver
uma discriminação entre estes docentes e os restantes professores, nomeadamente em relação ao calendário,
porque, por um lado, a resposta social já é dada por outras estruturas, e, portanto, esse argumento deixou de
existir, e, por outro, os educadores têm funções pedagógicas atribuídas e, nomeadamente, funções de avaliação
que têm de articular com os professores do 1.º ciclo para que, depois, as crianças possam fazer uma transição
acompanhada entre ciclos. E o calendário é um dos obstáculos a que esta articulação seja feita com benefícios
pedagógicos.