I SÉRIE — NÚMERO 34
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Terceira nota, a Ordem é perentória ao afirmar que é erróneo procurar confundir alimentação de base
vegetariana, como é o caso da dieta mediterrânica, com uma alimentação exclusivamente vegetariana.
Nesse sentido, esta diferença é substancial. A alimentação vegetariana é, hoje, uma opção voluntária de
muitos portugueses e, por isso mesmo, a Direção-Geral de Saúde produziu um guia para a alimentação
vegetariana saudável. Já tivemos oportunidade de referir a nossa posição sobre esta matéria em junho, aquando
da discussão aqui dos projetos de lei a ela respeitantes.
Este guia foi emitido não por a Direção-Geral de Saúde entender que a dieta vegetariana é a opção mais
saudável mas, sim, para garantir que quem tome esta opção o faça da forma mais saudável, o que é uma
diferença substancial. Esta é também a opinião veiculada pela Ordem dos Nutricionistas.
O Sr. Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo apenas que acompanhamos a
possibilidade, a necessidade e o direito de os portugueses fazerem uma opção, uma escolha livre, mas há um
conjunto enorme de necessidades que devem ser acauteladas.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Queria começar por saudar os mais de 12 000
peticionários e valorizar a utilização deste importante instrumento de participação política à disposição dos
cidadãos. A matéria que hoje é trazida a discussão por esta petição já está a ser alvo intervenção parlamentar,
estando em curso um processo legislativo sobre o assunto.
Sobre esta matéria, o PCP destaca o que já destacou aquando da discussão dos projetos de lei referidos.
As cantinas públicas, nomeadamente as escolares, têm sido um elemento importante para permitir que muitas
crianças façam, ao menos, uma refeição decente por dia. Contudo, devido às alterações que impedem muitas
instituições de gerir as suas próprias cantinas, muitas delas estão hoje entregues a empresas de grande
dimensão, escolhidas por concursos nacionais.
Todo este enquadramento e a necessidade de as empresas concorrerem entre si para ganharem os
concursos tiram margem de manobra a decisões sobre as ementas, qualidade dos produtos e até a possibilidade
de compra de produtos de proximidade. São muitos os casos, nomeadamente nas escolas, em que foi notada
uma quebra na qualidade e na quantidade das refeições, com a passagem das cantinas para empresas.
Estes mecanismos impedem também que as cantinas possam consumir produtos de produção local, cuja
qualidade está intimamente ligada à agricultura familiar, capaz de produzir em qualidade e diversidade.
Os hábitos alimentares e a qualidade dos alimentos têm uma relação estreita com a saúde humana. Cada
vez mais conscientes desta relação, muitos portugueses optam por dietas com as quais procuram melhorar a
sua saúde e a sua qualidade de vida.
Não fazemos a apologia desta ou daquela dieta, até porque algumas dietas, ao restringirem a utilização de
alguns alimentos, procuram a variedade e o equilíbrio nutricional através da introdução de produtos exóticos. As
preocupações com a sustentabilidade da alimentação humana devem ser tidas em conta nesta realidade. Há
muitos argumentos contra ou a favor desta ou daquela dieta. Em matéria alimentar, como em muitas outras,
mais do que o consumo de determinados alimentos, são as quantidades consumidas que são verdadeiramente
prejudicais.
A diversidade e a possibilidade de escolha são a resposta às preocupações com uma alimentação saudável.
As cantinas, pela sua importância no fornecimento de refeições, devem disponibilizar uma qualidade
irrepreensível de alimentos, mas, tendo em conta que operam, habitualmente, para um universo generalizado
de cidadãos, devem também oferecer uma variedade alimentar que vá ao encontro dos desejos e das opções
alimentares dos seus utilizadores.
Aplausos do PCP.