I SÉRIE — NÚMERO 57
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Depois de vários episódios, alguns deles, aliás, contraditórios, que surgiram nos últimos dias, estamos hoje
diante de uma conclusão que os factos não podem negar.
O leve fechar de olhos do Governo PSD/CDS nas transferências financeiras para paraísos fiscais é de uma
gravidade sem precedentes e assume a natureza de um verdadeiro escândalo nacional, um escândalo fiscal,
que deveria, aliás, envergonhar os responsáveis. Mas também, mais uma vez, este caso vem dar razão às
forças políticas, como o Partido Ecologista «Os Verdes», que há muito defendem a necessidade de tomar
medidas para combater estas práticas e estas políticas que continuam a favorecer quem pretende fugir às suas
obrigações fiscais.
Ninguém compreende, os portugueses não compreendem, aqueles que pagam impostos não entendem, as
famílias, que durante cinco anos foram sujeitas a um verdadeiro massacre fiscal, não percebem, como é possível
que um governo não tenha controlo sobre o cumprimento das obrigações fiscais, que não queira saber se havia
impostos a cobrar, que não esteja preocupado com o montante de receitas fiscais que a transferência de 10 000
milhões de euros para paraísos fiscais representaria para o nosso País.
Mas este caso vem, antes de mais, mostrar que a denúncia que o Partido Ecologista «Os Verdes» fez ao
Governo PSD/CDS era mais do que justa. O Governo anterior estava, ou esteve, ao serviço dos grandes grupos
económicos, enquanto carregava, em força, na carga fiscal sobre quem trabalha,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — … com aumentos brutais nos impostos dos rendimentos do
trabalho, com cortes inaceitáveis nos salários e nas pensões e em tudo o resto que nós sabemos.
Hoje, perguntamos: como é possível que um governo feche os olhos a transferências de milhares de milhões
de euros para paraísos fiscais, lance hipotecas e despeje famílias por pequenas dívidas fiscais?! A resposta só
pode ser uma: o Governo PSD/CDS não escondeu a fatia ideológica que norteou as suas opções e as suas
políticas.
Sobre o caso que trazemos hoje para discussão, importa relembrar que no último debate quinzenal com o
Sr. Primeiro-Ministro aqui, no Plenário, Os Verdes afirmaram que sobre esta matéria era preciso apurar
responsabilidades diversas e também responsabilidades políticas.
De imediato se ouviu, por parte do PSD e do CDS, dizer que não havia responsabilidades políticas a assumir,
que o PSD e o CDS não assumiriam quaisquer responsabilidades, mas, afinal, o ex-Secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais Paulo Núncio acabou por assumir essas responsabilidades. É pouco, muito pouco. É preciso
que os partidos que compunham o Governo anterior venham a assumir as responsabilidades políticas sobre o
que se passou.
Mas este caso, este leve fechar de olhos, por parte do Governo PSD/CDS, fez ainda cair por terra a
propaganda descarada que o PSD e o CDS faziam no que diz respeito ao combate à fraude e à evasão fiscais.
Afinal, quando se autointitulavam «Governo do contribuinte», não faltaram à verdade, só não disseram quem
eram os contribuintes que protegiam,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — … mas nós já sabíamos e, na altura, fizemos a respetiva denúncia.
Hoje, fica claro para todos que o Governo PSD/CDS fez uma obra que deve envergonhar os seus autores:
ao mesmo tempo que castigava os portugueses com impostos, com cortes salariais, com cortes nas pensões e
cortes nas políticas sociais, que dizia não ter dinheiro para aumentar as reformas e para os desempregados, o
Governo PSD/CDS fechava literalmente os olhos às transferências financeiras de milhares de milhões de euros
para paraísos fiscais.
Assim, não deveria valer, mas, infelizmente, foi o que aconteceu: uns viveram em paraísos fiscais e a
generalidade dos portugueses viveu um verdadeiro inferno fiscal.
Para Os Verdes, os paraísos fiscais têm vindo a contribuir, de forma muito sentida, para a imoralidade e a
injustiça fiscal que está instalada no nosso País. Mas, para além desta injustiça e desta imoralidade fiscal que