2 DE MARÇO DE 2017
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Sr. Presidente, Srs. Deputados: Como escreveu Sophia, «Pelos rostos de silêncio e de paciência (…) E pelos
rostos iguais ao sol e ao vento» sempre dissemos que havia outro caminho e, também neste âmbito, já o
começámos a percorrer. Os portugueses podem contar connosco.
O Governo PSD/CDS não ficará também, neste caso, politicamente impune. O Grupo Parlamentar do PS irá
chamar à Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa os ex-Ministros das Finanças Vítor
Gaspar e Maria Luís Albuquerque para darem mais esclarecimentos sobre este caso.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Bloco de
Esquerda.
A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saíram do País, sem controlo ou
sem verificação pela Autoridade Tributária, 10 000 milhões de euros, ou seja, 80% de todas as transferências
para offshore entre 2012 e 2014. E tudo isto aconteceu debaixo do nariz do mesmo Governo que perseguiu
trabalhadores e pequenas empresas, o mesmo Governo que penhorou casas de habitação por incumprimento
no pagamento de portagens.
Sr.as e Srs. Deputados, é legítimo perguntar: como é que um Governo tão alegadamente empenhado no
combate à fraude e evasão fiscais não deu por uma falha de 10 000 milhões de euros? A resposta foi dada esta
manhã por Paulo Núncio. O anterior Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais não deu pela falta de 10 000
milhões de euros, num total de 12 338 milhões de euros, transferidos, entre 2012 e 2014, porque não conhecia
as estatísticas, porque nunca quis saber qual era o valor das transferências, mas, ainda assim, tinha muitas
dúvidas quanto à sua publicação. E, assim, o Governo que cortou salários, que cortou pensões, que cortou
apoios sociais, o Governo que desconfiou dos desempregados e que desconfiou dos mais pobres, esse mesmo
Governo teve dúvidas quanto à publicação de estatísticas oficiais sobre transferências para offshore.
O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — Muito bem!
A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Vamos aos factos, Srs. Deputados.
Na terça-feira da semana passada, o jornal Público traz a notícia de que saíram 10 000 milhões de euros
para offshore sem controlo da Autoridade Tributária.
No dia seguinte, em pleno debate quinzenal aqui, na Assembleia da República, Passos Coelho apressou-se
a negar responsabilidades e Assunção Cristas dedicou-se a fazer acusações sobre notícias que tinham sido
plantadas nos jornais.
Foram precisos cinco dias, um desmentido do antigo diretor da Autoridade Tributária e outras tantas
contradições para que Paulo Núncio viesse desdizer o que disse e assumir a responsabilidade política pela não
publicação dos dados.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, esta revelação, apesar de durar há pouco mais de uma semana, já
produziu um momento memorável: a líder do CDS, Assunção Cristas, não só agradeceu em público o trabalho
de Paulo Núncio como chegou a afirmar que o País muito lhe deve.
A Sr.ª AssunçãoCristas (CDS-PP): — É verdade!
A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — É fácil perceber que empresas que fazem do planeamento e da evasão
fiscais o seu negócio entendam que devem muito a Paulo Núncio. Talvez seja por isso que a Associação
Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios elegeu Paulo Núncio como «Personalidade do
Ano», em 2016.
Aplausos do BE.