23 DE MARÇO DE 2017
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estabilização do conjunto do sistema financeiro, não podemos desperdiçar esta oportunidade de termos a Caixa
Geral de Depósitos devidamente capitalizada. É nisso que estamos a trabalhar, é nisso que confiamos e é isso
que, em meu entender, será um grande sucesso da viragem da política económica que a atual maioria logrou
introduzir no nosso País.
Relativamente às carreiras longas, como nestes debates temos sistematicamente reafirmado, trata-se de
uma prioridade. Creio que, no trabalho conjunto do Governo com as bancadas — e, nomeadamente, com a
bancada do PCP —, o Sr. Ministro do Trabalho já teve oportunidade de expor os traços gerais das iniciativas
que o Governo apresentará.
O Sr. Ministro do Trabalho está, precisamente neste momento, no Conselho de Concertação Social, a
apresentar o programa e o quadro que temos que permitam responder de modo justo à geração mais sacrificada
que o País teve, que foi a geração que teve necessidade – muitas vezes foi mesmo obrigada — de iniciar o
trabalho em condições que hoje consideraríamos inaceitáveis, como o trabalho infantil, sendo a mesma geração
que, depois de longas carreiras de trabalho e de muito longas carreiras contributivas, se vê confrontada com as
revisões do quadro da segurança social. Portanto, assim são duplamente penalizados: à penalização que
sofreram no início da sua vida de trabalho soma-se uma segunda penalização no fim da sua vida ativa.
Ora, é esta injustiça que importa corrigir, tendo, aliás, consciência de que estamos a corrigir algo que é
irrepetível no futuro, porque, felizmente, hoje, já ninguém voltará a ter necessidade de começar a trabalhar com
a idade em que muitas destas pessoas foram obrigadas a fazê-lo. É algo que temos de honrar, aliás, temos esse
dever, e iremos fazê-lo de acordo com o trabalho que temos realizado em conjunto.
No que diz respeito à precariedade, e tal como está previsto, na próxima semana o Governo apresentará à
Assembleia da República a proposta de lei que enquadrará os mecanismos de resposta à necessidade de
combate à precariedade no setor público, de acordo com um modelo que, partindo da identificação das
necessidades efetivas e permanentes, permita ter um sistema ágil de reconhecimento de elementos de
laboralidade que devem converter-se em verdadeiros vínculos laborais, devidamente titulados, garantindo a
integração nos respetivos quadros a todos aqueles que a tal têm direito.
Esse é um trabalho que também tem de ser acompanhado no setor privado e é com interesse que
acompanharemos o debate que se fará nesta Assembleia da República — creio que sexta-feira —, da iniciativa
do Partido Comunista Português. Julgamos que a matéria merece ser devidamente ponderada, porque, de facto,
em muitos casos pode não se justificar a mediação judicial perante a verificação administrativa da existência de
contratos de trabalho disfarçados de outras formas contratuais.
Há diversas formas de o fazermos. Não quero com isto dizer que seja necessariamente com a forma que
propõem, mas vemos esse debate como positivo. Por isso, segui-lo-emos com interesse e gostaríamos que ele
fosse aprofundado nesta Assembleia da República, não só em Plenário, mas também em comissão, para se
poder apurar a melhor solução que permita assegurar algo essencial: a maior solidariedade possível no
reconhecimento dos direitos dos trabalhadores e do combate à precariedade.
Como tenho dito, o combate à precariedade não é só uma questão de direito do trabalho, é uma questão que
tem a ver não só com a dignidade da pessoa humana no local de trabalho mas também com o incentivo que
deve ser dado às empresas para melhorarem a sua produtividade, por via da melhoria da qualificação dos seus
recursos humanos, o que é, obviamente, incompatível com relações de natureza precária.
Portanto, combater a precariedade é do interesse do próprio, é do interesse da sociedade e é até do interesse
da própria empresa.
E, para rompermos definitivamente com o modelo de desenvolvimento assente nos baixos salários, na
destruição de direitos e na precariedade, este combate tem de ser sempre prioritário para afirmar um novo
modelo de desenvolvimento que aposte na qualificação e na inovação como fatores de competitividade. É este
modelo que temos de construir e tudo o que sejam pretextos para adiar o esforço que ele exige é perder tempo
no esforço que temos de fazer para alcançar um novo modelo de desenvolvimento.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para fazer perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os Verdes.