20 DE ABRIL DE 2017
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A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — Claro que à falta de pudor democrático se associa o receio de que
a maioria de esquerda possa falhar e, na dúvida, é sempre melhor não correr o risco.
Mas a Europa e o mundo atravessam tempos difíceis, incertos. Há eleições nos próximos meses com
potencial para alterar em definitivo a face da Europa.
A insegurança cresce dentro das nossas fronteiras, mas as ameaças à paz mundial têm outros contornos
não menos preocupantes.
A situação da Grécia continua sem solução à vista e sob ameaça de nova crise profunda.
A recuperação económica global é ainda incipiente e nada nos pode garantir que não haverá nova crise.
Um governo e uma maioria responsáveis estariam neste momento a aproveitar o enquadramento favorável
para reformar o País e dar à economia nacional uma resiliência, que ainda não tem, para fazer face a quaisquer
contingências futuras.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Viu-se durante os quatro anos!
A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — Se é verdade que dificilmente estaríamos a salvo de choques
externos de maior dimensão, não é menos verdade que os seus efeitos seriam tão menos graves quanto melhor
tivéssemos feito o nosso próprio trabalho de recuperação económica.
O Governo reconhece nestes documentos que hoje debatemos que tem de mudar de estratégia e que o
crescimento afinal não virá do consumo. É positivo, mas é pouco.
O Governo tinha a obrigação de retirar o rating de Portugal do lixo, de pôr a economia a crescer muito mais,
de beneficiar da política de juros baixos do Banco Central Europeu, e nada, mesmo nada, no Programa de
Estabilidade e no Programa Nacional de Reformas nos indica um caminho nesse sentido.
Medidas mesmo, e generosas, só para a banca.
Depois de ter renegociado o empréstimo ao Fundo de Resolução em termos tais que passou efetivamente
grande parte do custo para os contribuintes, a maioria propõe-se agora dar aos mesmos bancos a possibilidade
de deduzirem os prejuízos correspondentes às imparidades durante 15 anos.
Este é o mesmo Governo, esta é a mesma maioria que, logo no Orçamento do Estado para 2016, rasgou o
compromisso sobre a reforma do IRC e reverteu o alargamento do prazo de reporte de prejuízos das empresas,
voltou aos cinco anos, quando a reforma do IRC o tinha alargado para 12. E é o mesmo Governo e a mesma
maioria que chumbaram no Orçamento do Estado para 2017 a proposta do PSD de repor os 12 anos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — A senhora diz isso como se fosse mau!
A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — É verdade que o prazo de 12 anos se mantém para as pequenas
e médias empresas, mas, infelizmente e como bem sabemos, a esmagadora maioria das empresas de menor
dimensão não apresenta lucros tributáveis, logo não beneficia deste prazo.
O que fica agora claro é que, para este Governo e para os partidos que o apoiam, PCP e Bloco, só a banca
merece cuidados e preocupações.
Vozes do PSD: — Muito bem!
Protestos do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — Só no setor da banca, as empresas podem ser grandes e ter mais
tempo para deduzir prejuízos, pagando menos impostos.
Aplausos do PSD.
Só a banca precisa de reforçar capital.
As esquerdas unidas não gostam de empresas grandes, que criem muitos postos de trabalho, que inovem,
que invistam e que possam ter condições para competir além-fronteiras, para serem players globais.