18 DE MAIO DE 2017
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horária de treino chega a ultrapassar as 40 horas semanais. Só assim se conseguem atingir os patamares
exigíveis a uma arte na qual convergem o esforço físico, a mais elevada concentração, apurada sensibilidade
musical e uma enorme criatividade, além, evidentemente, de muito amor e muita paixão.
Na verdade, a formação de um bailarino começa muito cedo, condiciona a sua vida académica e social.
Expõe-no a lesões, por vezes graves. Se tal acontecer, beneficia apenas do regime de apólice uniforme de
seguro de acidentes de trabalho, absolutamente inadequado a uma profissão de desgaste rápido e, quando
termina a carreira, não tem, por via de regra, qualquer outro tipo de formação que não a de bailarino.
Sr.as e Srs. Deputados, os bailarinos começam as carreiras muito cedo e só conseguem reformar-se bastante
tarde.
Os bailarinos da Ópera de Paris, por exemplo, reformam-se aos 42,5 anos. A companhia é a mais jovem e
talvez por isso seja também a mais importante do mundo.
É, portanto, incompreensível que os bailarinos da Companhia Nacional de Bailado, uma companhia de
referência, não tenham um regime especial de segurança social, de reinserção profissional, bem como um
seguro de acidentes de trabalho compatível com a especificidade da sua atividade artística.
O projeto de lei do Bloco de Esquerda pretende colmatar essas lacunas e dar um contributo para dignificar a
profissão de bailarino. Entre outros pontos, estabelece as condições de atribuição de pensões, entrando em
linha de conta com percursos internacionais, um regime especial de acesso à docência e de ingresso no ensino
superior e um regime jurídico de seguro de acidentes de trabalho para os profissionais do bailado clássico ou
contemporâneo.
A situação atual não prestigia o serviço público da cultura em Portugal. Em 2006, a Companhia Nacional de
Bailado foi considerada uma das 10 melhores do mundo, vários dos seus bailarinos foram premiados e
continuam hoje a ter reputação internacional. Mas, a manter-se o atual estado de coisas, todo esse património
poderá ser posto em causa.
É, portanto, altura de encontrar soluções, Sr.as e Srs. Deputados, e, nesse sentido, estamos disponíveis para
alcançar o mais largo consenso possível com todas as bancadas parlamentares.
Os bailarinos não podem continuar a ser tratados como profissionais descartáveis!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para apresentar o projeto de lei n.º 518/XIII (2.ª), do PSD e do CDS-PP,
tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Barata Lopes, do PSD.
A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como ficou claro das
intervenções anteriores, esta situação já veio, por várias vezes, à Assembleia da República,…
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — E como é que votou?!
A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — … mas não exatamente da forma como aqui foi explicado.
A razão pela qual o assunto não foi resolvido não foi sempre porque as propostas não tenham sido aprovadas.
Aliás, convido-os a pensar no histórico e verão que algumas delas simplesmente caducaram.
Bem sei que é mais fácil acusar a anterior maioria, seja em que altura da Legislatura for, mas quer o Bloco
de Esquerda, quer o Partido Socialista, em propostas anteriores, contaram com a viabilização, na generalidade,
dos seus projetos para se poder discutir em grupo de trabalho. Portanto, é daqui que partimos.
Disse — e bem! — o Sr. Deputado do Bloco de Esquerda que o que interessa é objetivamente resolver aquilo
que é manifestamente uma situação que configura uma desadequação entre as regras atuais e a realidade da
profissão de bailarino de bailado clássico ou contemporâneo.
Mas também não é verdade que só tenhamos aparecido agora, porque, ainda que tivéssemos apenas
participado na discussão, é sabido, porque nesse sentido decorreram os trabalhos na Legislatura anterior, que
quer por parte do Governo anterior, quer por parte da antiga maioria parlamentar foi feito um esforço…
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Foi?!