23 DE JUNHO DE 2017
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de Justiça e que nos associamos ao sentido cultural e ao sentido político da ação que o seu Relatório de 2016
nos retrata.
Aplausos do BE.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José de Matos Correia.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva.
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A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Já foram apresentados
nesta Câmara vários argumentos em relação ao Relatório do Provedor de Justiça. O Provedor de Justiça é, de
resto, um símbolo constitucional importantíssimo, constitui mais um dos fiéis da balança da nossa democracia,
uma democracia já robusta, garante o exercício dos direitos, liberdades e garantias e tem sido sempre —
qualquer um dos Provedores de Justiça que temos tido o prazer de conhecer — um ator fundamental no
escrutínio do acesso a direitos fundamentais dos cidadãos e também no escrutínio do funcionamento dos
serviços públicos.
Este Relatório, como já aconteceu no ano passado, dá-nos alguns sinais positivos e que nos tranquilizam. E,
como dizia há pouco o Sr. Deputado José Manuel Pureza, a estatística aqui é importante. É importante
percebermos, através desta atividade, o que realmente vai bem, mas também o que vai mal.
Quero ainda registar aqui positivamente, por mais um ano, a diminuição do número de queixas e o aumento
da percentagem dos casos em que se conclui pela reparação da ilegalidade ou da injustiça. É sinal de que o
Provedor de Justiça tem tido um papel ativo, interventivo e tem funcionado como um garante do acesso a direitos
fundamentais.
No entanto, há que assinalar aqui uma preocupação que é recorrente e que, por isso mesmo, é ainda mais
inquietante. No ano passado, já a assinalámos e, este ano, não é novidade: desde há dois anos que o maior
número de queixas diz respeito ao regime da segurança social, ao regime da fiscalidade e à relação de emprego
público. E isto já vem, como referi, do ano passado e do ano anterior. Portanto, cabe ao Governo ter um papel
mais interventivo nesta matéria e melhorar o acesso a estes direitos. É que, na verdade, estas têm sido matérias
permanentemente em causa e com o maior número de queixas ao Sr. Provedor. Por isso, era importante que o
Governo tivesse um papel ativo nesta matéria, para que, no próximo ano, quando aqui estivermos a discutir
novamente o relatório de atividades do Sr. Provedor, possamos registar uma diminuição relativa do número de
queixas nestes domínios.
De resto, quero também salientar que aumentou, em relação ao ano passado, o número de queixas
relativamente ao urbanismo e habitação, à educação e ao sistema penitenciário. E aqui gostava de me
concentrar, sobretudo, no sistema penitenciário. Todos conhecemos as queixas, que também têm sido
recorrentes, em relação ao funcionamento do nosso sistema penitenciário. Ora, o Sr. Provedor faz ressaltar o
agravamento das condições do sistema penitenciário português no que toca à sobrelotação, à alimentação, ao
alojamento, à violência, aos cuidados de saúde, aos contactos e às visitas dos filhos dos reclusos. Na verdade,
do que aqui lemos, nada parece funcionar nos estabelecimentos prisionais. Para além da sobrelotação, tudo o
resto — condições de alojamento, alimentação, violência, cuidados de saúde, contactos e visitas dos filhos dos
reclusos — tem sido posto em causa. Portanto, nada funciona no nosso sistema penitenciário.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Não é de agora!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — É verdade, não é de agora!
Mas o problema tem-se agravado e essa tendência é que tem de ser travada.
E a verdade é que o Governo está em funções há dois anos e ainda não se mexeu nesta questão — aliás,
lembro que, no Orçamento do Estado para 2016, este Governo até diminuiu o valor atribuído às refeições para
os reclusos, o que é um dos sinais de que este sistema penitenciário, que já estava mal, piorou com este
Governo. É aqui que quero pôr a tónica e é aqui que quero deixar registado que é preciso intervir, ativa e
rapidamente, para melhorar o sistema prisional.