6 DE JULHO DE 2017
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Acontece que o SIRESP nasceu torto e, como diz o nosso povo, «o que nasce torto tarde ou nunca se
endireita». O SIRESP é uma parceria público-privada, é um contrato assinado por um Governo de gestão
PSD/CDS-PP por um ministro com ligações ao Grupo SLN/BPN, que é, por acaso, uma das empresas que
constitui o SIRESP, e custou ao Estado 485 milhões de euros.
Hoje sabemos, por via de uma pergunta colocada pelo PCP a Oliveira e Costa, na comissão de inquérito ao
BPN, que, como ele admitiu, o SIRESP custou no máximo 80 milhões de euros, isto é, sabemos que o Estado
pagou cinco vezes mais por um sistema do que ele, efetivamente, custou.
Mais: continuamos a pagar por ano cerca de 40 milhões de euros.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Uma vergonha!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Portanto, o SIRESP tem uma palavra: negócio.
Para o PCP não faz qualquer sentido que o sistema integrado de comunicações esteja nas mãos de privados,
sujeito à lógica do lucro e não sujeito à lógica de serviço público de vital importância.
Não deixa de ser irónico que no SIRESP, sendo constituído por um grupo de empresas onde assume
particular importância a SLN/BPN e a ESEGUR do Grupo BES, dois bancos intervencionados pelo Estado, em
que, por opção do PSD, CDS e PS, tivessem sido «nacionalizados» os prejuízos sem tocar nos ativos destas
empresas. Se se tivessem «nacionalizado» também os ativos, como propôs o PCP, hoje teríamos o controlo
público do SIRESP e estaríamos a discutir que medidas teríamos de adotar para que ele funcionasse e
respondesse de forma eficaz.
Não foi essa a opção do PSD, do CDS e do PS, pelo que, ainda hoje, como resultado disso mesmo, estamos
a pagar 40 milhões de euros por ano por um sistema que, objetivamente, tem graves lacunas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para o PCP é necessário repensar o sistema de comunicações de
emergência do nosso País e, para além de garantir que o Estado tenha, sem dependência de terceiros, um
sistema integrado de comunicações, é preciso pensar se partimos para uma base SIRESP ou para uma outra
solução tecnológica.
Recordo aqui que há outras opções no nosso País: por exemplo, os Açores optaram por uma solução
tecnológica distinta, mais barata e, pelos vistos, mais eficiente; as Forças Armadas desenvolveram capacitação
própria para responder às comunicações de emergência.
É, pois, preciso repensar o sistema de comunicações e saber se mantemos ou não um sistema-base
SIRESP.
Entretanto, é preciso resolver os vários problemas que o SIRESP tem, nomeadamente as zonas cinzentas
sem cobertura que existem e que são inaceitáveis, os problemas de funcionamento e as fragilidades em cenários
de calamidade que, objetivamente, existem.
Tenho aqui, Sr. Presidente e Srs. Deputados, uma mensagem de correio eletrónico, que recebemos hoje, do
sistema de gestão do SIRESP, que informa um conjunto de elementos da proteção civil de que numa estação-
base do SIRESP se irá promover uma manutenção, referindo que a manutenção será entre as 10 horas e as 18
horas e que a mesma só ocupará duas horas. É um bocadinho como aqueles operadores privados de televisão
que dizem: «nós vamos aí a casa resolver o problema entre as 10 horas da manhã e as 10 horas da noite.
Aguardem.» A mesma lógica funciona no SIRESP, ou seja, dizem: entre as 10 horas e as 18 horas (não sabemos
quando) vamos fazer a manutenção.
Claro que não estamos contra a manutenção, e até admitimos que ela possa demorar as duas horas, mas é
inaceitável que os agentes de proteção civil estejam condicionados neste período de tempo pela gestão privada
que diz: «vamos lá quando nos apetecer, entre as 10 horas e as 18 horas». Não podemos continuar assim!
Temos de mudar o sistema de comunicações de emergência!
Entendemos que, para além de termos de discutir a questão da propriedade pública que o SIRESP deve ter
— e isso é fundamental —, é também essencial, no imediato, garantir que não haja interrupções da rede SIRESP
neste período que se avizinha, proceder ao levantamento imediato das capacidades existentes junto dos
bombeiros e das Forças Armadas para criar canais mais ágeis de comunicação, caso o SIRESP falhe, ou seja,
no fundo, temos de melhorar os sistemas redundantes que hoje existem.