I SÉRIE — NÚMERO 105
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Se analisarmos a fita do tempo, fica claro, no nosso entendimento, que as primeiras horas de combate ao
incêndio foram dominadas pela falta de organização, descoordenação e confusão nas comunicações.
Nos últimos dias, tem sido dado conta de que o SIRESP falhou durante várias horas, embora a Sr.ª Ministra
tenha declarado que não houve falha total do sistema, mas, sim, intermitências.
Em 23 de junho, no jornal i pôde ler-se que o SIRESP deixou de funcionar entre as 19 horas de sábado e as
9 horas e 30 minutos de domingo e que, nesse período, bombeiros, GNR e Proteção Civil não conseguiram
comunicar entre si.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil admite apenas falhas do SIRESP num curto período. O Comandante
Operacional que estava no terreno garantiu, durante as conferências de imprensa, que as falências da rede
eram muito curtas, inferiores a 1 minuto, meio minuto, e que, por isso, nunca comprometeram as operações.
Por seu lado, o relatório do SIRESP diz que não houve falhas nas comunicações, apenas saturação da rede.
A Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, ou seja, a entidade gestora do Sistema, diz que
ocorreram falhas nas comunicações e que é preciso analisar e verificar essas falhas.
Sr.as e Srs. Deputados, afinal, em que ficamos?
Srs. Deputados do Bloco de Esquerda, não será mais importante discutir o que falhou no funcionamento
deste sistema de informação e o porquê desta descoordenação total entre entidades e o que tem de ser feito
para que em futuros incêndios — ainda estamos no início da fase crítica —não aconteçam mais problemas com
estas consequências trágicas do que centrarmos a discussão no modelo de aquisição desta tecnologia? É isso
que, de certeza absoluta, os portugueses querem saber.
Sobre o encerramento da chamada «estrada da morte», continua a descoordenação total, com o Primeiro-
Ministro, numa entrevista à televisão, a afirmar que a estrada não estava encerrada, com o Secretário de Estado
a informar uma rádio de que a via estava fechada e com a GNR a afirmar que não recebeu quaisquer instruções
para a fechar.
O que importa aos portugueses é dar respostas concretas sobre os motivos que levaram a que tal estrada
não tenha sido encerrada.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!
O Sr. JoséSilvano (PSD): — As confirmações do número de mortos e feridos foi outra completa
descoordenação, com entidades, bombeiros, Proteção Civil, GNR e| Secretário de Estado a darem versões
completamente contraditórias.
Esta é mais uma prova da total descoordenação que ocorreu no teatro de operações.
O que importa, portanto, Sr.as e Srs. Deputados, é também dar respostas urgentes e concretas às
necessidades das populações e aos problemas que enfrentam no terreno.
Temos de encontrar meios expeditos, conforme disse ainda hoje o Presidente do PSD, Pedro Passos Coelho,
para resolver as situações urgentes e, se for preciso, criar mecanismos legais para que dispensem as
averiguações para, no terreno, dar resposta concreta às pessoas.
Aplausos do PSD.
A prova de que o sistema de comunicações falhou e que o SIRESP não deu resposta às solicitações feitas
no teatro de operações é a apresentação, nesta altura — repito, nesta altura —, desta iniciativa do Bloco de
Esquerda.
Com esta iniciativa, parece que o Bloco de Esquerda quer, de alguma forma, expor motivos que justificam,
de facto, a falha, no terreno, do SIRESP, senão este sistema de informação e este problema não seriam
discutidos nesta altura.
Mesmo os argumentos de caráter ideológico sobre o modelo público ou privado não disfarçam — antes pelo
contrário, acentuam — o não funcionamento das comunicações no referido incêndio e a respetiva
descoordenação.
Podemos afirmar que a primeira conclusão fundada do não funcionamento dos meios e respetivo plano de
comunicação é tirada por um dos partidos que suportam o Governo — o Bloco de Esquerda, com a apresentação
deste tema hoje de forma potestativa.