I SÉRIE — NÚMERO 105
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Ora, esta situação desvirtua tudo o que se pretende salvaguardar
com os concursos públicos, nomeadamente a transparência dos contratos, mas afasta, ainda, o interesse
público, que devia ser a premissa maior nestes contratos e também nestes concursos.
O que pergunto à Sr.ª Deputada Sandra Cunha é se partilha da leitura que fazemos relativamente ao
concurso que deu origem ao SIRESP.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados José Luís Ferreira e André Silva, concordamos
em absoluto com aquilo que disseram e registamos também o entendimento que fazem — e que é semelhante
ao que o Bloco faz — em relação a esta problemática da gestão do SIRESP. Evidentemente que concordamos
também com a análise que foi feita relativamente à origem do SIRESP e ao negócio que é este sistema de
comunicações, tão crucial para Portugal.
Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, mais uma vez, esta questão que estamos a debater aqui hoje não tem a
ver com Pedrógão Grande. Tem a ver com todas as situações que relatámos, que exemplificámos e que existem
nas várias notícias ao longo dos tempos, de vários anos, que são os vários problemas que o SIRESP tem
revelado ao longo da última década.
A avaliação que a comissão técnica independente fará em relação aos acontecimentos de Pedrógão Grande
é muito importante e, evidentemente, deverá trazer consequências. Agora, este projeto que o Bloco de Esquerda
aqui traz não tem a ver só com a tragédia de Pedrógão Grande, mas tem a ver com todos os problemas que se
têm revelado nos últimos anos em vários contextos, em vários incêndios, florestais ou não, dos quais Pedrógão
Grande foi, de facto, mais um.
Consideramos sempre que a segurança e a proteção da população não podem ficar reféns de negócios nem
de estimativas financeiras. Se tivéssemos realmente em conta os custos financeiros, o interesse do Estado e o
interesse público, o SIRESP não teria custado ao Estado mais cinco vezes do que custou.
O Sr. JoséManuelPureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª SandraCunha (BE): — O SIRESP não teria custado ao Estado cerca de 500 milhões de euros, em
vez de 100 milhões, ou seja, teria custado cinco vezes menos.
Não é de agora que o Bloco de Esquerda se preocupa com estas questões e não é de agora que o Bloco de
Esquerda fala nestes problemas do SIRESP e na necessidade de a gestão passar das mãos dos privados para
as mãos do público.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Mas agora há um contexto!
A Sr.ª SandraCunha (BE): — Sr. Deputado Telmo Correia, depois de Pedrogão — e sabemos que tragédias
destas podem acontecer no futuro e é provável que acontecerão cada vez mais —, não tirar nenhum tipo de
consequência é que seria realmente dramático.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª SandraCunha (BE): — Por isso, apresentámos o projeto de resolução que está em discussão.
Sr. Deputado, o ex-Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna, Fernando Alexandre,
que também defende a gestão pública e o SIRESP nas mãos públicas, foi do Governo PSD/CDS e foi do CDS.
Como o Sr. Deputado bem disse, trata-se precisamente de o SIRESP ser mal gerido ou bem gerido e, de
facto, tem sido mal gerido nas mãos dos privados.
A direita e o Sr. Deputado esbracejaram sobre todos os temas para que tudo fique na mesma e, na verdade,
para não se mexer, mais uma vez, nos negócios e nos lucros dos privados.