I SÉRIE — NÚMERO 109
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A Assembleia da República era, e é, daí ser, para mim, o nosso orgulho, um lugar de honra da República,
uma assembleia democrática e filha do sufrágio universal, a primeira sem distinção de género e uma obra do 25
de Abril que fundou a nossa democracia.
Lugar matricial da República e da democracia, vivi e vi, nesta Casa, perdoem-me esta rápida incursão,
momentos e episódios distintos, marcantes. Participei em lutas diversas e difíceis, percorri amarguras, alegrias,
tristezas, silêncios, vitórias e derrotas, como é próprio da democracia. Construí muitas amizades, respeitos e
convivências, por certo também adversidades, mas, sobretudo, fica-me a lembrança de grandes vultos
parlamentares e políticos desta Casa e também a lembrança imperecível do fogo sagrado da democracia que o
Parlamento representa.
A Assembleia da República é mais do que cada um de nós e a sua circunstância é, por excelência, o lugar
constituinte da democracia.
Permitam-me, por isso, que, de forma singela, cumprimente todas as Sr.as Deputadas e todos os Srs.
Deputados, saúde V. Ex.ª, Sr. Presidente da Assembleia da República, saúde os Deputados constituintes que
integram esta Câmara — Helena Roseta, Jerónimo de Sousa e Miranda Calha —, saúde os diversos grupos
parlamentares da Assembleia, na pessoa dos seus Presidentes, saúde o meu grupo parlamentar, na pessoa de
Carlos César, meu amigo de longa data, e todos os Deputados de todas as bancadas.
Permitam-me que saúde os funcionários da Assembleia da República pelo seu trabalho profissional na defesa
da qualidade e competência dos serviços administrativos desta Casa e todos os funcionários dos diversos
grupos parlamentares desta Assembleia.
Saúdo, finalmente, as Sr.as e os Srs. Jornalistas, que têm um papel essencial no debate político, na sua
interação, crítica e difusão e, particularmente, na afirmação pública da Assembleia da República.
Saio desta Casa com muitas das certezas com que aqui entrei: a de que a âncora do progresso da
Humanidade está nos grandes valores do respeito pela dignidade humana, no sentimento de fraternidade, no
combate à pobreza, à exclusão, à precariedade no trabalho, no respeito pelo trabalho, no combate às
desigualdades, na defesa da inspiração ética da política, no equilíbrio ecológico como imperativo vital para as
gerações futuras e para a sobrevivência coletiva.
Saio desta Casa ancorado nos valores e na certeza, para usar uma bela e singela expressão de Péricles,
também ele um democrata antes do tempo e longínquo, de que «não há felicidade sem liberdade, nem liberdade
sem coragem». É uma boa consigna para a Assembleia da República.
Aplausos gerais, de pé.
O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente, permite-me o uso da palavra?
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado Carlos César?
O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente, era para solicitar autorização a V. Ex.ª e aos líderes
parlamentares para fazer uma curta declaração a este propósito.
O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Colegas Líderes Parlamentares: Este é
um momento de dificuldade para o Partido Socialista, ao ver partir da ação parlamentar um companheiro, um
amigo e um camarada de sempre.
O Sr. Deputado Alberto Martins nasceu e renasceu em 25 de Abril e tomou esse dia como origem, como
razão e como consequência da sua ação cívica. É, como bem se sabe, um jurista de reconhecida competência,
um ativista icónico da oposição estudantil à ditadura, um lutador pela democracia.
Desempenhou as funções mais altas na República, desde Ministro a Deputado, no decurso de oito
legislaturas, e a líder parlamentar do Grupo Parlamentar do Partido Socialista.