I SÉRIE — NÚMERO 109
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correios e sabe também que não há qualquer registo daquele cidadão nos muitos processos de apoio social de
que a junta trata naquela comunidade.
Pode ter-se opinião diversa sobre o conteúdo de um regulamento, igual a tantos outros que existem por todo
o País, mas isto não autoriza a abusiva transformação desta situação num caso de discriminação.
A questão que se coloca é como é que o Bloco passa destas dúvidas para uma acusação de racismo e
discriminação.
Por que é que o Bloco primeiro condena e só depois pergunta, sem nunca ter sequer contactado o Presidente
da Junta?
Risos e protestos do PSD e do CDS-PP.
Por que é que o Bloco manteve este voto de condenação, apesar dos esclarecimentos que ontem mesmo
foram enviados à Assembleia da República, confirmando que não houve nenhuma atitude de racismo ou
discriminação e por que é que não diz uma única palavra sobre o apoio daquela Junta à comunidade cigana?
Protestos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe para concluir, por favor.
O Sr. João Oliveira (PCP): — O PCP continuará a condenar o racismo e a xenofobia e combaterá quaisquer
formas de discriminação, sejam elas raciais ou de outra natureza.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Vou concluir, Sr. Presidente,
Temos uma atitude expressa não só em palavras mas na intervenção nas autarquias, no relacionamento
com cidadãos de diversas nacionalidades, etnias e culturas.
O que merece condenação e repúdio é a atitude do Bloco que instrumentaliza causas, factos e populações
na base da mentira, da deturpação e da falsificação, revelando métodos que se classificam a si próprios.
Aplausos do PCP, de Os Verdes e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Manuel Pureza.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dos vários rostos da
discriminação e do racismo, a discriminação contra a comunidade cigana é uma das mais frequentes e
desgraçadamente mais instaladas no nosso País. Também por isso, a luta contra todas as expressões de
discriminação injustificada e preconceituosa contra a comunidade cigana tem de ser para todas e para todos
nós uma prioridade.
A Assembleia da República deve assumir a sua responsabilidade neste combate pelos diretos humanos e
contra o preconceito contra os ciganos em especial e contra qualquer outro grupo ou condição. Deve fazê-lo
independentemente de quem pratica esses comportamentos e das circunstâncias em que eles se verificam.
Os factos a que este voto se reporta são inequívocos. Falamos da indisponibilização do cemitério de uma
freguesia para a inumação de um cidadão de etnia cigana sem qualquer critério verdadeiramente consistente
que justificasse essa recusa.
Protestos do PSD.
A discriminação que se justifica com regulamentos, muitas vezes, não deixa de ser discriminação.