14 DE OUTUBRO DE 2017
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Caiu a tese do Governo. Lembramo-nos bem de, naquela mesma noite, dizerem: «Tudo foi feito. Era
impossível fazer mais. Foi um fenómeno natural inexplicável. Nada poderia ser feito perante a dimensão desse
mesmo fenómeno.» Não, Sr.ª Ministra! Foi só, e apenas, incompetência a começar pela sua incompetência.
Por isso, ouvindo o Sr. Deputado do Partido Socialista já percebemos aquela que se prepara para ser a
narrativa do Governo. Não podendo demitir a Comissão Técnica Independente, vai demitir-se o Presidente da
Proteção Civil, já agora, nomeado por este Governo.
Aplausos do CDS-PP.
Mas isso não chega, nem o CDS deixará que isso aconteça, porque o que aconteceu é demasiado grave e
é em nome, precisamente, do respeito que devemos às vítimas e à família das vítimas que, Sr. Deputado
Fernando Rocha Andrade, uma coisa lhe garanto: pode ser hoje, pode ser no dia 27 de outubro, cá estaremos
para o debate, mas não deixaremos que isto acabe numa pura demissão de um presidente da proteção civil.
Não é admissível que um Estado que falhou falhe até no apuramento de responsabilidades.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Srs. Secretários de Estado, Sr.as Deputadas e
Srs. Deputados: Este Relatório mostra-nos que estamos a lidar com a repetição de problemas crónicos e
confirma o fracasso das políticas sucessivas dos últimos anos no domínio da prevenção e do combate a
incêndios florestais em Portugal.
É o fruto de anos de desinvestimento nesta área, de uma aposta num ordenamento da floresta que visa o
lucro fácil e rápido em detrimento da proteção da floresta, do desenvolvimento sustentável e da proteção das
populações. É o fruto do desinteresse acumulado relativamente a todo o sistema de proteção civil.
As falhas que este Relatório aponta são por isso falhas acumuladas ao longo dos anos. Não podemos
escamotear problemas crónicos de prevenção e combate a incêndios no nosso País.
Durante os últimos 17 anos já perderam a vida em incêndios 165 pessoas. Este Relatório deve, por isso
mesmo, servir-nos para proceder a alterações profundas e estruturais na proteção civil e no ordenamento da
floresta no nosso País.
Este Relatório resultou de uma tragédia demasiado grande e demasiado horrível para servir apenas como
arma de arremesso político e deve servir para termos a coragem e a capacidade de fazer mudanças
absolutamente necessárias e estruturais nesta matéria.
A gestão eficiente do combustível das florestas já foi denunciada, várias vezes, pelo Bloco de Esquerda, o
incumprimento da legislação é gritante. O Bloco de Esquerda tem também alertado constantemente para a falta
de meios humanos e equipamentos de combate a incêndio.
Os bombeiros em Portugal representam 0,16% da população; em França, por exemplo, a proporção é de
0,36%. Os corpos de bombeiros estão envelhecidos e enfraquecidos. A cobertura da maior parte do território é
assegurada por bombeiros voluntários e sabemos que a prontidão para o ataque inicial acaba, por isso, por ser
comprometida.
O Bloco de Esquerda defende a criação e a existência de equipas profissionalizadas ou de equipas mistas,
municipais ou intermunicipais, para combate inicial aos fogos em tempo útil, assim como a existência, nos teatros
de operações, de especialistas em comportamento do fogo que possam orientar as ações de comando.
A aposta na prevenção e na proteção da floresta e o investimento em meios e equipamentos, mas também
em recursos humanos, assim como na sua qualificação e na sua formação especializada, são absolutamente
essenciais se não quisermos voltar a passar por tragédias como esta.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.