I SÉRIE — NÚMERO 9
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não voltemos a dizer, como dissemos há quatro meses, que isto não
pode repetir-se, pois repetiu-se. E isso é grande parte do drama.
O Sr. Presidente: — Em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.
Deputados: Este é um voto de pesar que não deveria ter lugar. Nenhum país devia levantar-se para assistir à
morte dos seus em situações tão difíceis como aquelas que aconteceram nos passados dias.
Somando estes últimos dias com todo o verão, com a época dos incêndios, mais de 100 pessoas perderam
a vida, em Portugal, nesses incêndios, homens, mulheres e crianças que pedem mais do que o nosso pesar
para respeitarmos a sua memória.
O pesar existe, a solidariedade também, para com aqueles que perderam a vida, para com as suas famílias,
para com tantas e tantos profissionais, voluntários, simplesmente vizinhos que deram o melhor que tinham para
salvar o que podiam, principalmente as vidas de quem podiam salvar.
E essa solidariedade é o que faz a união de um País, que exige dos seus dirigentes políticos um maior
empenho na sua proteção do que tem acontecido nas últimas décadas.
Este ano, nos últimos dias, o Estado falhou aos seus. E, quando isso acontece, nenhum nem nenhuma de
nós pode dormir em paz.
A exigência, portanto, é saber se estaremos ou não à altura do que exigem de nós, à altura do que de melhor
temos para dar a quem não espera outra coisa que não esse melhor, porque é essa a sua exigência. A exigência
de passar para lá do jogo partidário corriqueiro, passar para lá dos relatórios que não saem do papel, passar
para lá das leis que não são cumpridas e que, a cada incumprimento, colocam a vida das pessoas em causa.
Esse desafio é o desafio único de quem quer respeitar aqueles que perderam a vida, de quem sabe, como
creio que todas e todos nós sabemos, o que é ligar para um familiar e não saber se está vivo, o que é ficar sem
comunicações, sem eletricidade, sem água, quando aquele besta enorme nos bate à porta.
Se temos, de facto, alguma exigência é perante a história do nosso País, neste momento, respondendo como
é que queremos ser lembrados daqui a 5, a 10, a 50 anos. Se como aqueles e aquelas que fizeram por estar à
altura daqueles que esperavam tudo deles, ou se daqueles e daquelas que falharam, quando o País, os seus
familiares, os seus vizinhos, a sua população deles pedia muito mais e melhor.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do PS, o Sr. Deputado Carlos César.
O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs.
Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Infelizmente, o Parlamento é chamado, uma vez mais,
a exprimir a sua solidariedade face a acontecimentos cuja repetição nos devolve uma dor que todos
desejávamos não voltar a sentir.
Hoje, neste dia de luto nacional, esta Câmara tem de cumprir, à cabeça, o seu doloroso dever de manifestar
o seu sentido pesar e expressar a sua profunda solidariedade a todos e a cada um dos membros das famílias
das vítimas, mas também a todos os portugueses. É que todos nós fomos feridos em mais esta desmedida
tragédia.
Deixo aqui, em nome do Partido Socialista, o registo desse nosso sentimento. De aldeia em aldeia, de
freguesia em freguesia, em todos os lugares de Portugal onde este flagelo atingiu o coração dos portugueses e
roubou vidas vencidas por uma brutalidade inaudita, os socialistas estiveram e estão ao lado dos que sofreram,
dos que sofrem e dos que alimentam a esperança de não voltar a sofrer.
Sentimos uma grande mágoa por verificarmos da pior forma que, ao longo dos anos, de muitos anos,
situações, com a perigosidade e as terríveis consequências que suportámos, não foram eficazmente prevenidas
ou evitadas.
Sentimos que o País, o Estado, o Governo ou os serviços e sistemas públicos não podem mais falhar.
Sentimos que todos temos de encontrar os caminhos para fazer a diferença.