I SÉRIE — NÚMERO 12
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Não, certamente achou que um toque aqui e um toque ali tudo se comporia no Orçamento.
E quando foi conhecido o Relatório, mais uma vez, retirou dele alguma consequência política? Provada a
omissão grave do Estado no combate ao incêndio, provada a falta de combate adequado entre as 4 horas e as
6 horas da tarde, contrariando todo o normativo e impedindo que o incêndio fosse controlado, retirou
consequências políticas? Pediu desculpas, em nome do Estado português? Tomou a iniciativa de, prontamente,
indemnizar as famílias das vítimas?
Não, manteve exatamente a mesma linha seguida até aí, que, de resto, repetiu aqui hoje, e assumiu as
conclusões de uma parte do Relatório, mas esqueceu as da outra parte, aquela que era incómoda para si, para
o seu Governo e para as entidades que tutela.
Uma vez mais repetida a tragédia em outubro, mais uma vez retirou daí todas as consequências políticas?
Soube dar a palavra que os portugueses precisavam de ouvir?
Não, manteve-se seráfico e, só a contragosto e muito pressionado, mudou o discurso.
Sr. Primeiro-Ministro, nós não censuramos emoções ou a ausência delas na gestão política dos incêndios;
nós censuramos a ausência de um Governo e de um Primeiro-Ministro à altura de dar confiança aos portugueses
e de os confortar na dor.
Um Primeiro-Ministro pode pedir ou não desculpas em nome pessoal, mas não pode deixar de pedir
desculpas em nome do Estado português, quando o Estado falha sob o comando do seu Governo — uma coisa
não se confunde com a outra e o Sr. Primeiro-Ministro provou que não percebeu esta diferença.
Quando Portugal precisava de um estadista, deu-se conta de que só tinha um político. Um político habilidoso,
mas que, perante a tragédia, não mostrou fibra nem caráter.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não está a ler novamente a intervenção inicial?
O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — É um copy and paste!
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Primeiro-Ministro, já depois das medidas propostas neste fim-de-
semana, queria perguntar-lhe se está mesmo convencido de que as questões estruturais estão suficientemente
amadurecidas.
Qual é o seu plano para o renascimento agrícola, florestal e turístico destes territórios?
Nós consideramos que as verbas anunciadas não são suficientes para todo o esforço de reconstrução que
é exigido. Enquanto líder do Partido Socialista, que diz sobre isto? E esforço financeiro, mas também esforço de
envolvimento de recursos humanos, para que as pessoas não esperem e não desesperem.
Enquanto líder do Partido Socialista, pergunto-lhe se está disponível para apoiar um envelope financeiro
robusto para que a unidade de missão possa, com autonomia e com comando, tomar decisões e garantir a
eficácia na alocação dos recursos.
Pergunto-lhe se está disponível para apoiar um método que convoque as universidades para encontrar um
modelo de gestão no território que envolva os proprietários e lhes dê rendimento desde o ano zero, por conta
de uma gestão conjunta e profissional, à escala economicamente justificada e seguindo as melhores práticas.
Pergunto se está mesmo disponível para ajudar a resolver a sério e a fundo todos os problemas. É que,
enquanto Primeiro-Ministro, já ninguém acredita que seja capaz de o fazer, porque o senhor já teve ocasião para
tal e desperdiçou-a.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Amadeu Albergaria.
O Sr. Amadeu Soares Albergaria (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, sou eleito
pelo distrito de Aveiro onde arderam milhares de hectares de floresta, onde dezenas de casas ficaram reduzidas
a cinzas e onde centenas de postos de trabalho estão em risco.
Sou eleito por um distrito que nunca quis depender do Estado para nada. É reconhecido por todos a
capacidade industrial dos aveirenses, uma capacidade alicerçada em trabalhadores e empresários de
excelência que fazem daquela terra um dos principais motores económicos do País.