25 DE OUTUBRO DE 2017
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Tudo o que é estrutural, para os senhores, é muito relevante, mas não aceitamos que se usem os últimos 20
ou os últimos 30 anos, ou mesmo os próximos 10, para com isso esconder o que aconteceu nos últimos quatro
meses. Não aceitamos que queiram usar o passado longínquo ou um futuro distante para evitar enfrentar o
passado recente de um Governo que falhou e merece censura.
Não comento sequer o profundo ridículo daqueles que, no passado, diziam que a culpa nunca podia ser da
meteorologia e agora descobriram que, para além desta, a culpa é — imagine-se! — do neoliberalismo. É pura
e simplesmente grotesco!
Têm razão, Srs. Deputados da maioria, este debate e esta moção não são, essencialmente, sobre projetos
de organização florestal de cada partido, e nós já aqui apresentámos, e continuaremos a apresentar, os nossos.
Esta moção é sobre o que aconteceu este ano e a incompetência do Governo do Partido Socialista, cujas falhas
os senhores aqui procuram encobrir, disfarçar ou ignorar, por todos os meios ao vosso alcance.
De quem é o oportunismo, pergunto eu?! De quem, como nós, exige responsabilidades e consequências ou
de quem falhou e é incapaz de assumir as suas responsabilidades?!
Aplausos do CDS-PP.
Para além da realidade estrutural, para além da meteorologia, o que falhou foi o Governo e, ao falhar, deixou
tantos dos nossos concidadãos entregues à sua sorte.
«Governar é prever», dizia Thompson. Repetimos aqui a pergunta que fizemos à Sr.ª Ministra da
Administração Interna, há quatro meses: com temperaturas entre os 40 ºC e os 43 ºC, que era previsão existente
para o País naqueles dias antes dos acontecimentos de Pedrógão, como é possível que o Governo não tivesse
antecipado a fase Charlie e não tivesse a pré-disposição de meios para evitar o que aconteceu?
E mais: falhou aquilo que o Governo dizia ser o seu grande objetivo, que era um ataque inicial eficaz. Não
houve pré-disposição de meios, a grande concentração de meios só ocorreu depois das primeiras mortes. Não
sou eu quem o diz, é o Relatório da Comissão Técnica Independente.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Os responsáveis recém-nomeados pelo Governo não estavam nem
preparados nem à altura de uma situação daquela natureza, também é o Relatório que o diz, e assistiu-se até
ao caricato de, perante uma concorrência e uma afluência de políticos, responsáveis políticos acabarem a tomar
decisões que só podiam ser dos comandantes operacionais.
Mas se os relatórios são conclusivos nas falhas de prevenção e de combate em relação a Pedrógão, mais
surpreendente ainda é que o Governo depois disso tudo tenha voltado a falhar.
Como é possível, depois de avisado, depois de Pedrógão, o Governo ter repetido os mesmos erros que
levaram ao que aconteceu no dia 15 de outubro? Foi disto que os senhores não quiseram falar ao longo do
debate.
Perante um verão que teimava em continuar, o Governo foi avisado pelos bombeiros e nós próprios
perguntámos por que é que não prolongavam a fase Charlie. O Governo não ouviu nada disto.
Governar é escolher e o Governo escolheu nada fazer, e por isso é também responsável pelo que aconteceu.
Nesse fim de semana trágico, estavam ao serviço menos 3300 homens, estavam 16 meios aéreos, em vez
dos 48 que existiam na fase anterior. Por isso é que todo o País naquele dia fatídico foi o que tinha sido Pedrógão
Grande quatro meses antes.
Como foi possível que o Governo tivesse ignorado, inclusivamente, o aviso do IPMA de que aquele dia seria
o mais perigoso e de maior risco de todo o ano em matéria de incêndios?
Estava avisado e falhou de forma clamorosa. Desta vez arderam fábricas, desta vez a destruição foi maior,
desta vez arderam casas. Se isto não merece censura, pergunto o que poderia, então, Sr.as Deputadas e Srs.
Deputados, merecer censura neste País.
Esta moção é a expressão dessa censura e também da indignação de muitos portugueses, indignação
reforçada pela insensibilidade com que o Governo reagiu à tragédia. Pode agora o Sr. Primeiro-Ministro vir dizer-
nos que errou ao controlar as suas emoções, mas o que ficou na memória de todos foi um Primeiro-Ministro e