I SÉRIE — NÚMERO 12
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um Governo que nas horas mais difíceis que este País viveu em muitos anos proferiram declarações que o que
revelaram foi insensibilidade e até sobranceria.
As recomendações de resiliência, os avisos de que tudo se poderia repetir — para não dizer mais das vossas
frases — mostraram desresponsabilização, se não mesmo a tentativa de «sacudir a água do capote» para cima
daqueles que só foram vítimas e ficaram abandonados à sua sorte.
Só depois de chamado à razão pela oportuna intervenção do Sr. Presidente da República, o Sr. Primeiro-
Ministro veio procurar emendar a mão. Finalmente, quatro meses depois, houve demissões e o Governo entrou
num afã de tentar fazer tudo o que não tinha feito para assim virar a página.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, até aí há uma pergunta óbvia: por que é que aquilo que então resolveram fazer
não foi feito antes? Por que é que não recorreram às Forças Armadas ou às faixas de proteção ou a tudo aquilo
que agora anunciam, designadamente o reforço de meios?
Já agora, quando aqui, nesta Câmara, discutimos, até por iniciativa de um partido que apoia o Governo, a
questão do SIRESP, quem é que se opôs a que aquilo que agora os senhores vêm propor, que é o SIRESP de
controlo público, não fosse feito?
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É curioso, Srs. Deputados! Foi o Partido Socialista que se opôs.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — E o CDS? E o PSD?
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Quando aqui o CDS e o PSD, os partidos da oposição propuseram um
mecanismo rápido de indemnização às vítimas, quem impediu que esse mecanismo fosse aprovado?
Curiosamente, e mais uma vez, foi o PS.
Os senhores não queriam, sequer, fazer aquilo que agora se viram obrigados a assumir, mas, Sr. Primeiro-
Ministro, digo-lhe que a vossa má consciência não apaga a dimensão da vossa incompetência.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Outro argumento da parte da atual maioria é o de que esta moção não
faz sentido porque seria, dizem, um mero exercício de tática política. Sobre isso, permitam que vos cite o Sr.
Deputado Jerónimo de Sousa no debate de uma moção de censura do Partido Comunista Português, em julho
de 2012.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Espero que o cite como deve ser.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Oiça, Sr. Deputado: «Quem pretende reduzir este debate e esta moção
a uma qualquer tática política não conhece nem percebe a situação dramática em que se encontra o País e a
maioria dos portugueses». O que mudou?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Mudaram as moções de censura! Está enganado!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O Governo. Para quem gosta de aforismos, «pela boca morre o peixe»,
Sr. Deputado João Oliveira.
Aplausos do CDS-PP.
É muito curioso que tenha sido o senhor quem subiu a esta tribuna para vir falar de exploração de tragédias.
É verdade, Srs. Deputados, esta moção parte de uma tragédia e é precisamente por essa tragédia e pelo
estado em que se encontra o País que esta moção é inevitável.