I SÉRIE — NÚMERO 15
50
O Sr. Jorge Campos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, o Bloco considera
que o orçamento da cultura continua a manter valores residuais. Quer isto dizer que a promessa reiterada de
prestar melhor atenção a uma área considerada vital continua adiada.
É certo que os números apontam para um crescimento ligeiro, mas, se olharmos com atenção, verificamos
que esse aumento não acompanha nem a inflação, nem o crescimento do PIB.
O orçamento para a cultura é de cerca de 470 milhões de euros. Desse montante, 200 milhões são para a
comunicação social, financiada na quase totalidade pela contribuição para o audiovisual. Para o setor nuclear
da cultura restam, portanto, pouco mais de 200 milhões de euros, ou seja, 0,1% do PIB.
Acresce, no entanto, que, destes 200 milhões, quase 100 milhões provêm da taxa do cinema e de outras
receitas próprias, o que quer dizer, feitas as contas, que o investimento na cultura não vai muito além dos 100
milhões de euros, um quarto do valor anunciado e, portanto, 0,05% do PIB.
Sr. Primeiro-Ministro, tenho ouvido dizer repetidas vezes que o desenvolvimento tem de assentar em
conhecimento e qualificação. Não podíamos estar mais de acordo. Manifestamente, é uma evidência, mas
palavras não bastam. Um País que não investe na cultura arrisca-se a agravar o défice de conhecimento e de
qualificação. Saber que a direita não fazia melhor…
Vozes do PSD: — Mas fez!
O Sr. Jorge Campos (BE): — … não alivia as responsabilidades do Governo.
Vou dar-lhe um exemplo, Sr. Primeiro-Ministro: a proposta de Orçamento do Estado faz a verificação e
assinala o crescimento das receitas nos museus e monumentos, mas parece não ter em conta que haver mais
visitantes implica também mais responsabilidades e, naturalmente, mais investimento para a manutenção e a
conservação do património.
Nesse sentido, tenho de lhe dizer, Sr. Primeiro-Ministro, que o Bloco de Esquerda não se revê neste
Orçamento na área da cultura.
Vozes do PSD: — Então, vai votar contra?!
O Sr. Jorge Campos (BE): — Portanto, tudo faremos para, na especialidade, introduzirmos as alterações
que nos parecem poder, de alguma forma, melhorá-lo.
Os agentes culturais têm exigido, a nosso ver com toda a razão, orçamentos que respeitem um princípio
básico: cultura acima de zero! Acompanhamos essa preocupação e gostaríamos de saber se o Sr. Primeiro-
Ministro nos acompanha.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para formular o último pedido de esclarecimento desta ronda,
tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, o investimento público é
apontado pelo PCP, há muitos anos, como um problema central da política económica e do desenvolvimento do
País.
Portugal precisa, como de pão para a boca, de uma aposta determinada e efetiva no investimento público
que dinamize o investimento privado e o crescimento do emprego e que dê resposta às necessidades do País,
da modernização das suas infraestruturas e serviços públicos, desde logo para travar e inverter a sua
degradação, investimento público que faz falta para a recuperação e modernização de escolas, hospitais,
centros de saúde, das instalações e dos equipamentos das forças e serviços de segurança, das infraestruturas
de apoio aos setores produtivos.
Há pouco, trouxemos a este debate o problema grave da falta de pessoal nestas empresas e nestes serviços
públicos. A situação dos transportes públicos e dos seus meios materiais é a outra face da mesma moeda: os
navios que vão tendo a manutenção adiada sucessivamente, os que são abatidos e não substituídos, as