I SÉRIE — NÚMERO 23
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O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, deram entrada na
Mesa, e foram admitidos pelo Sr. Presidente, o projeto de lei n.os 685/XIII (3.ª) — Cria a comissão técnica
independente para a análise dos incêndios que ocorreram entre 14 e 16 de outubro de 2017 em Portugal
continental (PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP e Os Verdes) e os projetos de resolução n.os 1166/XIII (3.ª) — Pela
valorização da calçada portuguesa, o apoio à candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade e a
valorização da profissão de calceteiro (Os Verdes) e 1167/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que assegure o
ordenamento e gestão eficiente do tráfego na «Ponte da Chamusca» (CDS-PP), que baixa à 6.ª Comissão.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos passar ao segundo ponto da ordem do dia, com o debate
preparatório do próximo Conselho Europeu, ao abrigo da alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º da Lei de
Acompanhamento, Apreciação e Pronúncia pela Assembleia da República no âmbito do Processo de
Construção da União Europeia.
Para uma intervenção inicial, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro (António Costa): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Este
Conselho Europeu de 14 e 15 de dezembro assentará essencialmente sobre quatro pontos.
O primeiro tem a ver com a defesa e que certamente discutiremos a propósito da Cooperação Estruturada
Permanente; o segundo sobre as questões dos assuntos sociais, educação e cultura, na sequência da
proclamação do pilar social da União Europeia na recente cimeira social em Gotemburgo; terceiro, uma
avaliação sobre o ponto de situação das migrações; e, quarto, a realização de uma cimeira num formato
inclusivo, a propósito da questão da união económica e monetária.
Permitam-me que me concentre, sobretudo, neste ponto nesta minha primeira intervenção, visto que
certamente os Srs. Deputados não deixarão de me dar oportunidade de falar sobre os outros temas na fase final
do debate.
O aprofundamento da união económica e monetária é crucial para Portugal. Nos 30 anos de participação na
União Europeia, são muito visíveis as duas fases da nossa evolução. Tivemos 15 anos de forte convergência
económica e 15 anos de forte divergência económica, com exceção dos três últimos trimestres.
Os primeiros 15 anos, só para sinalizar, entre 1985 e 2000, foram marcados por taxas de crescimento nunca
inferiores a 4,8% e que chegaram a ser de cerca de 6%. Aquilo que mudou foi efetivamente a dificuldade de a
economia portuguesa se ajustar à exigência acrescida de competitividade que o euro introduziu.
Ao contrário do que tinha acontecido aquando da criação do mercado único, que foi acompanhada do
lançamento da política de coesão, o lançamento do euro não foi acompanhado de nenhum mecanismo que
reforçasse a correção das assimetrias entre as economias e que incentivasse a convergência. Por isso, como
era esperado, aquilo que aconteceu foi um aumento das divergências.
A União Europeia ignorou aquilo que diziam todos os relatórios técnicos que antecederam a criação do euro,
em particular o Relatório Delors, de 1989, ignorou a experiência de outras uniões monetárias e aquilo que era a
literatura sobre a otimização de uniões monetárias. Sem um mecanismo de correção das assimetrias, as uniões
monetárias aumentam as assimetrias e não fomentam a convergência.
É por isso necessário corrigir, agora, um defeito originário da criação do euro. Porventura, quando o euro foi
criado, entendeu-se, então, que a valia política da sua criação sobrelevava sobre os aspetos técnicos da sua
criação ou entendeu-se que o simples facto da redução da taxa de juro era condição suficiente para que os
países que mais necessitavam de fazer um esforço de convergência encontrassem os mecanismos próprios de
financiamento para financiar esse esforço de convergência. Porventura, foi esse o entendimento e, efetivamente,
assim aconteceu: os países que mais necessitavam de convergência foram também aqueles que mais se
endividaram, correspondendo, assim, ao incentivo errado que foi dado na criação do euro.
Por isso, todos aprendemos, seguramente — e a União Europeia no seu conjunto —, com os efeitos da crise
de 2008 e, em particular, com a crise de 2011. Hoje, estamos melhor preparados do que estávamos então para
enfrentar novas crises, mas a primeira lição que devemos poder retirar é a de que mais do que responder às
crises é necessário preveni-las.
Por isso, dotar a União Europeia de uma capacidade orçamental própria que vise financiar os investimentos
necessários à medida das necessidades específicas de cada Estado-membro para ultrapassar os seus
bloqueios estruturais e fomentar a convergência é absolutamente essencial.