7 DE DEZEMBRO DE 2017
35
Sei que há alguns que entendem que a função principal da capacidade orçamental própria deve ser,
sobretudo, a de responder a choques assimétricos. Essa função é importante, mas mais importante é poder
financiar os investimentos necessários para a convergência e, por isso, evitar os riscos da crise.
Em segundo lugar, é necessário podermos dotar a União Europeia de um verdadeiro fundo monetário
europeu. E, por isso, a transformação do Mecanismo Europeu de Estabilidade nesse fundo monetário europeu
é importante, designadamente para poder dotar o fundo único de resolução.
A conclusão da união bancária afigura-se da maior importância, desde logo, completando aquilo que já está
decidido e que deve ser, efetivamente, criado, como a garantia comum dos depósitos.
Também deve ser encontrada uma solução para a situação do crédito malparado no conjunto do sistema
bancário e reforçada claramente a coordenação orçamental entre as diferentes economias.
É, para nós, particularmente importante reforçar a coerência entre os diferentes instrumentos, entre o
exercício do Semestre Europeu, o recurso aos fundos comunitários e a capacidade orçamental própria do
conjunto da zona euro.
Não posso deixar de saudar, no dia de hoje, o conjunto de iniciativas apresentadas pela Comissão. Não
concordo com todas, mas, porque, em primeiro lugar, quebra o tabu que existia, há anos, sobre a discussão da
união económica e monetária, quero saudar a capacidade de iniciativa da Comissão e que essa iniciativa possa
ser acompanhada pela vontade de os Estados-membros serem capazes de olhar para o conjunto da união
económica e monetária e compreenderem que devemos construir as pontes e os consensos necessários para
uma reforma que faça da união económica e monetária algo que sirva o conjunto das economias, reforce a
convergência, a coesão, o crescimento e o emprego.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Miguel Morgado, do Grupo
Parlamentar do PSD.
O Sr. Miguel Morgado (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro e restantes
Membros do Governo: Já que o Sr. Primeiro-Ministro deu o mote, deixe-me, então, começar pela questão da
união económica e monetária.
Hoje, a Comissão Europeia apresentou um conjunto de propostas que visam aprofundar a união económica
e monetária para serem discutidas na Cimeira do Euro, que terá lugar nestes dias do Conselho Europeu. Deixe-
me que pegue em duas afirmações que o Sr. Primeiro-Ministro disse, a primeira das quais diz respeito ao debate
anterior, mas acho que a repetiu, mais ou menos com a mesma formulação, agora, nesta sua intervenção.
Disse o Sr. Primeiro-Ministro, no debate anterior, que, há dois anos, estes temas das propostas para o
aprofundamento da união económica e monetária eram tabu.
Sei que o Sr. Primeiro-Ministro tem um grave problema de amnésia, e tem-no manifestado desde que é
Primeiro-Ministro, mas, agora, estou a ficar preocupado e, por isso, quero ajudá-lo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É o Memofante!
O Sr. Miguel Morgado (PSD): — Estas propostas que a Comissão Europeia agora apresenta, como a
Comissão Europeia explicita na sua comunicação, refletem, em larga medida, o Relatório dos Cinco Presidentes,
que é de junho de 2015 — veja bem! —, de há dois anos. E esse Relatório dos Cinco Presidentes foi, em grande
medida, cotejar propostas de outros Estados-membros, nomeadamente de Portugal, da iniciativa do último
Governo liderado pelo PSD, como a da criação do fundo monetário europeu, a do suporte orçamental ao fundo
de resolução, a do avanço para a união de capitais. Veja bem, Sr. Primeiro-Ministro, isto foi há dois anos! O
tema não era tabu!
Mas mais grave, mais preocupante, na sua amnésia, é o seguinte: desde que o Sr. Primeiro-Ministro se
tornou Primeiro-Ministro, eu e os meus colegas passámos um ano a desafiá-lo para continuar o apoio diplomático
a estas propostas de 2015. Durante um ano, o Sr. Primeiro-Ministro nada disse sobre o assunto e, finalmente,
quando percebeu que não tinha outra estratégia para a Europa, nomeadamente para a união económica e
monetária, veio dizer que, afinal, apoiava o fundo monetário europeu, o suporte orçamental para o fundo de