I SÉRIE — NÚMERO 23
48
atualmente. Esta foi uma manobra, uma jogada para dizer que havia um grande problema quando, de facto, não
havia.
Existe, como sempre existiu, um consenso entre o PS, o PSD e o CDS sobre posições militaristas e
securitárias na União Europeia e agora têm a oportunidade de deixar isso muito claro, tal como o Bloco de
Esquerda tem também a oportunidade de deixar bem clara a sua posição.
Nós não nos enganamos sobre qual é o debate que está em cima da mesa, pois quando trazemos a debate
o nosso projeto de resolução e quando o levámos à Comissão questionámos e pedimos toda a documentação
que era essencial para um debate democrático, transparente e informado sobre algo de novo que vai ter
consequências a longo prazo, independentemente do governo que esteja no poder.
Nós não fazemos de conta com estas discussões, porque estamos a falar de uma deriva militarista da União
Europeia, que não responde às crises que supostamente são identificadas e que apenas vai agravar essas
mesmas crises. E quando rejeitamos mecanismos como o da Cooperação Estruturada Permanente não é
porque queremos que alguém do outro lado nos venha salvar, o objetivo não é esse. O que está em causa é
que o Bloco de Esquerda não aceita que o militarismo e o aumento de gastos com armamento e defesa seja a
solução para os problemas que têm sido apresentados pelas instituições europeias. E um desses grandes
problemas é a existência de uma grande deriva de governos — já não digo de movimentos, mas de governos
— de extrema-direita, e a resposta que é dada a essa deriva é o que estes governos sempre pediram: um
aumento militar e das forças militares em território europeu.
Esta deriva não tem qualquer sentido, não responde a qualquer crise que se possa identificar no espaço da
União Europeia. Portanto, com a Cooperação Estruturada Permanente e a posição do PS, do PSD e do CDS
ficam claros quais os valores que são defendidos, que não são, com certeza, os valores defendidos pelo Bloco
de Esquerda.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado, do Grupo
Parlamentar do PCP.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos hoje o intitulado
mecanismo de Cooperação Estruturada Permanente, que visa, objetivamente, a criação de um exército comum
na União Europeia e o reforço da capacidade militar da NATO.
O PCP rejeita a associação do nosso País a este mecanismo, porque esta dita «cooperação» significa mais
um passo no caminho do federalismo da União Europeia, mais ingerência e imposição sobre opções que devem
ser soberanas e mais um contributo para a militarização do chamado «pilar europeu da NATO».
A ideia de que a União Europeia é um modelo de paz e que esta organização tem sido essencial para a
defesa da paz no continente europeu é uma descarada mentira. A criminosa, ilegal e devastadora guerra da
Jugoslávia, em 1999, demonstra com clareza que o dito «projeto europeu» sempre teve uma componente militar
para impor à «lei da bala» os interesses das grandes potências da União Europeia.
Mas, não satisfeitas, as grandes potências europeias participaram, ativamente, na promoção de várias
guerras de ingerência e destruição em países soberanos, sempre sob a batuta da NATO, leia-se os Estados
Unidos da América.
Hipocritamente, os Estados Unidos da América e os seus fiéis amigos do «pilar europeu» da NATO levaram
a dita «paz» e a dita «democracia ocidental» ao Iraque, à Síria e à Líbia, financiando grupos terroristas que,
depois, cometem atos terroristas na Europa e, assim, justificam a crescente militarização.
Os resultados estão à vista: destruição, fome, miséria, milhares de mortos e uma crise humanitária com
milhares de refugiados. Estes são os resultados da dita «política de paz e democracia», imposta pelos Estados
Unidos da América e pelas potências da União Europeia.
Se dúvidas existem quanto a este assunto, as mais recentes notícias vindas a público, que dão conta de que,
hoje, na Líbia se vendem seres humanos como escravos, comprovam que a NATO e a União Europeia não
defendem nem a paz nem a democracia e muito menos os direitos humanos,…
Aplausos do PCP.