7 DE DEZEMBRO DE 2017
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… pelo que a militarização destas estruturas é inaceitável para qualquer pessoa que defenda a paz e a
resolução pacífica dos conflitos, como impõe a nossa Constituição.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta dita «Cooperação Estruturada Permanente» suscita outros problemas
que importa abordar. A concretização desta militarização da União Europeia implica, necessariamente,
comprometer a nossa soberania.
Na verdade, com a criação deste exército comum, Portugal compromete a sua autonomia e independência
quanto ao empenho de forças — leia-se, destacamento de militares — e quanto ao desenvolvimento e aquisição
de equipamentos militares que ficam sujeitos às regras e aos interesses das potências europeias.
Outro risco, que não é de menor monta, é o perigo da especialização das nossas Forças Armadas. Num
quadro em que os recursos, humanos e materiais, são já escassos para as missões constitucionais que as
Forças Armadas desempenham, a criação do exército comum europeu irá alocar recursos nacionais numa
valência a definir, retirando recursos para a multiplicidade de respostas que temos de dar, podendo, assim,
comprometer as missões que a nossa Constituição dita.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: As mais recentes manobras de diversão criadas pelo PSD, a propósito do
envio de documentação, demonstram que o que efetivamente PSD e CDS queriam — e, agora, na parte final
do processo, ficou demonstrado que é impossível — era não assumir que, neste assunto, convergem com o PS.
Não podemos deixar de registar a hipocrisia de quem anuncia não querer o exército comum e a especialização
das Forças Armadas, sabendo que é para isso mesmo que existe esta dita «Cooperação Estruturada
Permanente».
Protestos do Deputado do PSD Miguel Morgado.
Esta dita «Cooperação Estruturada Permanente» visa unicamente a criação de um exército comum europeu
e a especialização das Forças Armadas. Portanto, é hipócrita a posição de quem assume o seu contrário.
O Sr. Miguel Morgado (PSD): — Hipócrita?! Vocês vão aprovar o Orçamento!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — O PCP rejeita, por todas estas razões, esta dita «Cooperação Estruturada
Permanente». Rejeitamos a corrida às armas, porque acreditamos que é necessário desanuviar as relações
internacionais e porque acreditamos no princípio constitucional da resolução pacífica dos conflitos.
Para o PCP, a política de defesa nacional deve ser determinada pelos interesses nacionais e não por outros
interesses que nada têm a ver com os interesses do povo e do País.
O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Para o PCP, o que importa é uma Europa de efetiva cooperação entre
países soberanos e iguais em direitos, a paz, a desmilitarização das relações internacionais e não este caminho
de militarização que, perigosamente, conduz à ingerência, destruição e guerra.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, antes de fazer a minha intervenção, quero deixar
uma pequena nota.
Agora mesmo, a bancada do CDS foi acusada de hipocrisia política por defender o que sempre defendeu
relativamente à presença de Portugal na NATO e à presença de Portugal no projeto europeu. Ora, parece-me
que a hipocrisia política é muito mais própria daqueles que dizem que são contra esta participação de Portugal
na Cooperação Estruturada Permanente e que, depois, vão votar os Orçamentos do Estado ao lado do Governo,
onde estão as verbas para esta mesma Cooperação Estruturada Permanente.