I SÉRIE — NÚMERO 27
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, vamos dar
início à reunião plenária.
Eram 10 horas e 4 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrirem as galerias.
Vamos começar com a discussão, conjunto, dos projetos de resolução n.º 916/XIII (2.ª) — Recomenda a
recuperação do controlo e gestão dos CTT pelo Estado com vista à garantia do serviço público postal universal
(BE), 981/XIII (2.ª) — Pela defesa de um serviço postal público, de qualidade e universal e a reversão da
privatização dos CTT (Os Verdes), 1040/XIII (2.ª) — Em defesa do serviço público postal pela recuperação do
controlo público dos CTT — Correios de Portugal, SA (PCP) e 1178/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que
promova uma avaliação das responsabilidades contratuais subjacentes à concessão em vigor entre o Estado e
os CTT (PS).
Para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Heitor Sousa.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Presidente, Srs. e Sr.as Deputadas: O Bloco de Esquerda propõe o projeto
de resolução n.º 916/XIII (2.ª), de recomendação ao Governo para que inicie o processo de recuperação do
controlo e gestão do serviço público postal universal por parte do Estado, através do resgate da concessão do
serviço público dos correios e da sua rede pública aos CTT.
As razões que sustentam esta proposta convergem, todas, para uma mesma conclusão: a privatização total
dos CTT, terminada pelo anterior Governo PSD/CDS, a 5 de setembro de 2014, foi uma decisão errada, porque
prejudicou a grande maioria da população e lesou gravemente o interesse público. É por isso que, a nosso ver,
nesta fase do processo, se justifica o resgate da concessão dos CTT, o que deve implicar o regresso dos CTT
à esfera do setor empresarial do Estado.
Esse caminho será, quanto a nós, a construção das melhores condições para garantir um serviço postal
universal acessível, não baseado em padrões mínimos mas, sim, em padrões máximos de qualidade, tal qual
existia previamente ao processo de privatização. De facto, conforme atestam os sucessivos relatórios da
ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações), existe um incumprimento persistente pelos CTT dos padrões
de qualidade do serviço, incluídos no Convénio de Qualidade do Serviço Postal Nacional. Esse comportamento
tem, aliás, motivado diversas multas à empresa por esta não respeitar os critérios de densidade da cobertura da
rede dos CTT no atendimento ao público, quer em termos geográficos quer em termos de faixas horárias de
abertura, em violação das cláusulas 15.ª e 20.ª do Contrato de Concessão.
Um dos principais espelhos da rápida degradação do serviço dos CTT é a questão laboral. O diagnóstico é
esmagador, assinalando-se algumas das regressões, tais como: o encerramento, desde 2012, de 131 estações
de correio e de 105 postos de correio; a distribuição do correio passou a ser, nas zonas urbanas, dia sim dia
não e, nas zonas rurais, uma vez ou, no máximo, duas vezes por semana; a redução generalizada do número
de giros; o correio registado com mais de uma semana útil de atraso; nas estações, enormes filas de espera no
atendimento; e um número crescente de reclamações sem resposta.
Neste aspeto, há, até, um dado curioso de incumprimento por parte dos CTT, referido no último relatório da
ANACOM sobre o ano de 2016, em que o regulador regista um aumento de reclamações por atrasos e extravios,
face a 2015, mas a informação veiculada pelos CTT apenas refere o número de reclamações respondidas em
2016, que reduziu 51%, face a 2015. Ou seja, a ANACOM comunica o registo de «alhos» e os CTT respondem
com «bugalhos».
A conclusão é direta: os CTT tentam driblar o controlo e a fiscalização do contrato que assinaram e não serão
as multas sucessivas que irão alterar um perfil de gestão privada, pouco dada a transparências e, sobretudo,
muito mais voltada para defender o seu interesse do que para respeitar o público.
A expressão disso é o facto de a administração dos CTT ter sido célere em abrir caminho à prestação de
outros serviços da atividade a concessionária, nomeadamente a prestação de serviços bancários, como foi o
caso do Banco CTT. A estratégia é clara: valorizar o banco e concentrar grande parte dos recursos na sua
promoção. Com que consequências? Como a «manta» é curta, o resultado dessa estratégia é a degradação
imparável do serviço público universal de correios e telecomunicações.