I SÉRIE — NÚMERO 29
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Aliás, tem bastante histórico entre os seus antecessores socialistas.
Sr. Primeiro-Ministro, falo-lhe agora sobre outra matéria: o falhanço no acordo de concertação social.
Preocupa-nos que o Governo simplesmente desista de negociar com todos os parceiros sociais questões tão
importantes quanto a estabilidade da legislação laboral, questões tão importantes quanto o PEC, questões tão
importantes quanto o cumprimento sequer daquilo que foi acordado no ano passado. Isto é grave e mostra o
desinteresse total da parte do Governo no que tem a ver com o diálogo social e, além do mais, mostra que do
lado dos parceiros simplesmente já não se acredita na palavra do Governo, porque houve um acordo feito
anteriormente que não foi, de todo, cumprido.
Sr. Primeiro-Ministro, quem está à frente desta matéria é o Sr. Ministro Vieira da Silva, que está visivelmente
fragilizado, para além de ter falhado o acordo de concertação social e o seu papel na Autoeuropa.
Sr. Primeiro-Ministro, quando olhamos para o trabalho do Governo durante este ano, já concluímos que em
áreas de soberania falhou rotundamente. Este não foi um ano saboroso, foi um ano muito doloroso para muitas
famílias que perderam os seus entes mais queridos e que ainda nem sequer receberam a indemnização de 70
000 €, que já devia ter sido paga a todas as famílias. Foi um ano doloroso!
Como já referi, percebemos que o Estado falhou rotundamente nas áreas de soberania, mas a novidade do
final do ano é que o Estado também está a falhar noutras áreas. O Governo tem falhado quer em matéria de
concertação social, em que falhou um acordo e até tendo ouvido todos os parceiros — ou seja, houve um
falhanço em relação ao que se tinha comprometido fazer —, quer, por exemplo, com o caso da Autoeuropa, em
que tem sido incapaz de sentar à mesa, de forma eficaz, todos os que podem ajudar a resolver o assunto, desde
logo os seus parceiros de Governo. Quanto a esta matéria, o que tem para nos dizer, Sr. Primeiro-Ministro? Os
seus dotes de negociação e de mediação desvaneceram-se nesta matéria? Não está interessado? Com o que
é que o País pode contar?
Aplausos do CDS-PP.
Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Assunção Cristas, não vou entrar num concurso
de demagogia no qual seria francamente derrotado por V. Ex.ª, vou simplesmente dizer que o Governo respeita
a concertação social e faz todo o esforço para haver acordo na concertação social. No entanto, fazer acordos
na concertação social não significa que o Governo aceite tudo o que a concertação social, ou alguns parceiros
da concertação social, lhe propõem. Ninguém contestou os 580 € de salário mínimo nacional. Para apoiar
expressamente essa medida, foram-nos pedidas três condições, que não eram aceitáveis para o Governo. Ponto
final! Iremos ter o aumento do salário mínimo nacional, porque isso é que é mesmo o essencial para o dia a dia
dos portugueses.
Quando à Autoeuropa, desejamos, como todos, que lá haja paz social. Ao Governo compete fazer com que
as partes se aproximem e procurem um entendimento, mas o Governo não pode substituir nem administração
nem os trabalhadores e, hoje em dia, já não somos um Estado corporativo e, portanto, não compete ao Estado
dizer como é que os parceiros sociais se entendem ou não entendem.
Aplausos do PS.
Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Assunção Cristas.
A Sr.ª AssunçãoCristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, tomo boa nota do facto de não
estar interessado em utilizar os seus dotes de negociação, ou de se empenhar para que haja um acordo social,
ou sequer em garantir que o Governo cumpre o que foi acordado anteriormente com os parceiros sociais.
Aquilo que sai deste final de ano em relação ao seu Governo é o total desinteresse e a total incapacidade de
se credibilizar junto dos parceiros sociais por incumprir aquilo a que se tinha comprometido anteriormente.
Registamos esse desinteresse profundo por uma matéria que deveria ser o topo das suas preocupações.
Sr. Primeiro-Ministro, queria ainda referir um último tema.