I SÉRIE — NÚMERO 30
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O Sr. Presidente: — Bom dia, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas.
Declaro aberta a sessão.
Eram 10 horas e 3 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as galerias ao público.
Sr.as e Srs. Deputados, vamos dar início à ordem do dia, com a discussão, na generalidade, dos projetos de
lei n.os 695/XIII (3.ª) — Determina o fim da utilização de animais nos circos (PAN), 701/XIII (3.ª) — Reforça a
proteção dos animais utilizados em circos (PCP), 703/XIII (3.ª) — Proíbe a utilização de animais selvagens em
circos e estabelece medidas de apoio às artes circenses (BE), 705/XIII (3.ª) — Determina a proibição da
utilização de animais selvagens nos circos, procedendo à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 255/2009, de 24
de setembro (PS), e 706/XIII (3.ª) — Sobre animais em circo (Os Verdes).
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Hoje é o dia mais curto do ano e,
consequentemente, o dia com o menor tempo de luz no ano. É assim que vivem todos os dias os animais nos
circos, em confinamento excessivo. No circo, os animais passam a maior parte do seu dia encarcerados, apenas
1% a 9% do seu tempo é passado em treino ou no espetáculo.
Este tipo de confinamento desumano está na origem de estereotipias, transtornos comportamentais que
revelam ansiedade, como são os repetidos movimentos circulares ou basculantes, sendo mais frequente isso
acontecer em tigres, leões ou elefantes.
A evidência científica demonstra que os atos de performance na presença de espectadores causam stress
severo aos animais. O stress é causado pela restrição de movimentos, luz artificial, exposição a volume de som
alto e aversivo ou temperatura inadequada para os animais.
No que diz respeito ao treino, este compromete fortemente o bem-estar dos animais, já que os métodos de
treino incluem severas punições físicas e emocionais com vista a usar o medo para a subalternização do animal.
Domar um animal é um processo que envolve a mudança do seu comportamento, mas não a sua composição
genética. Neste processo, os animais são obrigados a submeterem-se e a subjugarem-se. Os animais nos circos
são meras sombras daquilo que são na natureza, são marionetas a quem foi retirada toda a dignidade, mesmo
para aqueles animais já reproduzidos em cativeiro, porque a verdade é que estes animais criados em circos são
idênticos aos seus congénitos selvagens.
Os espetáculos de circo têm um impacto contraproducente na perceção dos espectadores, especialmente
nas crianças, que, ao invés de conhecerem os animais de uma forma natural, são doutrinadas com o expoente
do modelo antropocêntrico: a supremacia, a dominância e a repressão da espécie humana sobre as outras.
Tudo isto para entretenimento, e tudo isto é tão fútil, tão oco e tão anacrónico!
O que uma sociedade evoluída deve transmitir às crianças é que a inteligência que distingue o ser humano
das outras espécies não deve servir para as subjugarmos mas para as protegermos. O que temos de dizer às
nossas crianças é que temos de transformar a atitude do predador na do jardineiro.
Privar animais selvagens da liberdade é algo intrinsecamente cruel. Jaulas maiores, melhor regulamentação
e mais fiscalização não resolve. É manifestamente impossível aos circos assegurarem requisitos fisiológicos,
mentais e sociais adequados para animais, prejudicando gravemente o seu bem-estar.
A exploração de animais selvagens em circos reflete uma visão ultrapassada dos animais. Em novembro, a
Irlanda tornou-se o vigésimo país da União Europeia a proibir a utilização de animais selvagens nos circos.
Ontem à tarde, a Escócia tornou-se o mais recente país a fazê-lo.
O PAN propõe que Portugal se junte a estes países, prevendo uma moratória, por um lado, para que os
circos possam adaptar-se a uma realidade sem animais e, por outro, para que haja tempo para se
reencaminharem os animais para reservas.
O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado. Faça favor de concluir.