I SÉRIE — NÚMERO 37
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indiferenciados, sem especialidade a serem lançados para o sistema. Portanto, é a precarização e a degradação
do próprio sistema.
As alterações que o anterior Governo PSD/CDS-PP fez ao regime de internato médico potenciaram esta
situação, porque quebraram a continuidade formativa, promoveram a existência de indiferenciados e a
precarização dos novos médicos que não acedem à especialidade.
Portanto, o que temos de fazer e o que o Bloco de Esquerda propõe com a sua iniciativa legislativa é que se
reponha a continuidade formativa, que haja no regime jurídico do internato médico o princípio do acesso à
formação especializada para todos os médicos que acabam a sua licenciatura, que se garanta a universalidade
desse acesso à formação especializada e que o Governo invista no SNS, de forma a aumentar as vagas e as
capacidades formativas do Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
António Sales, do Partido Socialista.
O Sr. António Sales (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Cumprimento os mais de 4000 cidadãos
subscritores da petição n.º 294/XIII (2.ª), que pretendem o acesso à formação médica especializada a todos os
médicos, insurgindo-se contra a existência de médicos indiferenciados.
Gostaria de começar por enfatizar a qualidade do ensino médico em Portugal no que diz respeito à formação
pré e pós-graduada como sendo um regime de excelência em qualidade e de oportunidades equitativas a
preservar.
As reais necessidades formativas obedecem às capacidades formativas dos serviços, ao número de
formadores, que cada vez mais escasseiam, ao número de candidatos e respetivas escolhas e à diferenciação
técnica dos serviços.
A fase de escolha de uma especialidade é muito importante na vida de um jovem médico, porque, de facto,
determina o seu futuro, e é-o também, consequentemente, na vida dos utentes, que são os principais
beneficiários dessa escolha.
Sr.as e Srs. Deputados, de todos os médicos que estão a trabalhar em Portugal, só 65% trabalham no Serviço
Nacional de Saúde — este é um desequilíbrio a corrigir. Nos últimos cinco anos, 3000 clínicos deixaram o serviço
público, mais de metade estavam em centros de saúde — este é outro desequilíbrio a corrigir. Nunca houve
tantos licenciados em medicina em Portugal, mas há menos médicos no Serviço Nacional de Saúde — novo
desequilíbrio a reverter. Por último, na senda dos desequilíbrios, temos uma demografia médica envelhecida,
potenciada por profundas assimetrias regionais e por uma ausência de planificação atempada da escolha de
especialidades mais carenciadas.
Sr.as e Srs. Deputados, como sabemos, o problema são, de facto, estes desequilíbrios, a organização e a
distribuição de recursos. Impõe-se, por isso, perante uma renovação geracional, um plano de reorganização,
um incentivo à escolha das áreas mais carenciadas e às regiões geográficas mais desprotegidas, uma
planificação atempada e transversal do sistema, que se inicia no acesso à faculdade e termina nas reais
necessidades do País.
Srs. Peticionários, relembro que apenas a Ordem dos Médicos pode atribuir idoneidade formativa. Reforço,
apenas a Ordem dos Médicos pode atribuir capacidade formativa, e de tal competência decorre a abertura do
número de vagas para formação especializada.
Srs. Peticionários, a abertura de vagas para assistentes graduados e seniores e consultores é um sinal claro
para que os médicos mais velhos reencontrem motivação no seu trajeto de carreira para que nos próximos anos
haja a possibilidade de a Ordem dos Médicos considerar maior capacidade e abrir mais vagas. O sistema não
é infinitamente elástico e, por isso, reafirmo esta necessidade de readequação.
O nosso compromisso, o compromisso do Partido Socialista será o de prosseguir o trabalho de monitorização
permanente da formação médica, de forma a assegurar o aumento de fixação de jovens médicos no SNS,
reforçando, assim, a sua qualidade de resposta, a qualidade de formação e a equidade no acesso.