I SÉRIE — NÚMERO 38
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É também por isso que Os Verdes afirmam que a tese de que o mercado se encarrega de regular a floresta,
mais do que uma ficção, é uma falsidade, uma mentira, uma fraude.
É uma falsidade, porque o mercado não olha para a floresta como um bem público mas, sim, como uma
simples mercadoria que se compra e que se vende e que pouco mais representa do que uma fonte de lucros
para alguns, poucos.
É uma mentira, porque as regras do mercado não são compatíveis com as preocupações ambientais, estas
representam, aliás, para o mercado, um entrave à ganância do lucro, de preferência rápido.
É uma fraude, porque o mercado, por si só, nada regula. E ainda bem, porque sem a intervenção responsável
do Estado, muito provavelmente, caminharíamos para um País de eucaliptos até nos jardins, como, de resto,
ficou visível, com a tendência que se seguiu à liberalização do eucalipto, promovida pelo anterior Governo.
Em boa hora, Os Verdes colocaram na agenda política a necessidade de travar a expansão da área do
eucalipto. E digo «em boa hora», porque sempre será melhor sermos um País à beira-mar plantado do que um
eucaliptal à beira-mar liberalizado.
Porém, a intervenção do Estado não se pode ficar apenas pelo esforço em travar a expansão do eucalipto,
a floresta requer mais e mais intervenção pública. E intervenção também ao nível do mercado da produção
lenhosa, que se pretende transparente, informado e capaz de garantir à produção preços remunerados.
Consideramos, por isso, que as propostas do Partido Comunista Português podem representar um excelente
contributo nesse propósito.
Relativamente às propostas sobre a biomassa florestal, que hoje nos são trazidas pelo PCP e pelo CDS-PP,
importa, antes de mais, ter presente que as políticas que nas últimas décadas foram seguidas não só pelos
vários governos, mas também ao nível da Política Agrícola Comum — da PAC —, provocaram um evidente,
notório e sentido abandono do mundo rural e uma desertificação do interior do País sem paralelo na nossa
história.
Esta nova realidade em termos de ocupação do território e o consequente abandono em massa das
atividades agrícolas e outras associadas ao mundo rural criou um conjunto de graves problemas, desde logo o
aumento exponencial da quantidade de material combustível, que deixou de ser retirado da floresta e das áreas
agrícolas quando deixou de haver gente nos campos e no mundo rural.
Ora, este crescente acumular de biomassa florestal continua a representar um perigo grave para a nossa
floresta, como se tem visto, aliás, todos os anos com os incêndios florestais e, sobretudo, com as tragédias do
ano passado.
Está, assim, criado um problema que exige respostas e procura de soluções, até porque a defesa da floresta
contra incêndios reclama ainda, para além da prevenção estrutural, do ordenamento florestal ou da vigilância,
soluções capazes de reduzir e controlar a biomassa florestal, tendo como premissa maior a redução do risco de
incêndio.
Neste contexto, Os Verdes encaram as propostas, hoje em discussão, como contributos importantes para
resolver um grave problema ou, melhor, para contribuir para a remoção de um perigo iminente que a acumulação
de biomassa florestal representa para a floresta, mas também para as pessoas e para os seus bens em termos
de incêndios florestais, como, de facto, no ano passado foi muito visível.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Maurício Marques, do Grupo
Parlamentar do PSD.
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Saúdo o Partido
Comunista Português e o CDS-PP por, mais uma vez, trazerem a Plenário o tema da floresta
Desde o início desta Legislatura, e pelas piores razões, que o tema da floresta tem sido uma constante em
Portugal.
A floresta portuguesa tem sido objeto de muitas considerações, de muitas propostas, de muitas iniciativas
legislativas; no entanto, no terreno pouco ou nada se verifica.
Os dados divulgados recentemente pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) demonstram que, para a atual
maioria, a austeridade na floresta é para ficar e para ser agravada.
Senão, vejamos: em 2016, o investimento público na floresta diminuiu, diminuindo também todas as ações
de prevenção florestal.