10 DE FEVEREIRO DE 2018
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, para apresentar o projeto
de resolução do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O regime do acesso ao direito e aos
tribunais, no que respeita à remuneração dos profissionais forenses pelos serviços prestados no âmbito da
proteção jurídica, bem como ao reembolso das respetivas despesas, remete para portaria conjunta dos Ministros
das Finanças e da Justiça de 2004.
Consequentemente, por via da portaria referida, procedeu-se à aprovação da tabela de honorários dos
advogados, advogados estagiários e solicitadores pelos serviços que prestem no âmbito da proteção jurídica, a
qual se mantem em vigor até à data, tendo-se verificado uma única e pequena alteração em 2009.
Entendemos que, não sendo a tabela atualizada há vários anos, os valores constantes desta ficam muito
aquém daqueles que seriam razoáveis, afigurando-se como fundamental assegurar que os profissionais que
prestam serviços no âmbito da proteção jurídica recebam uma remuneração condigna e justa, considerando a
relevância das funções que desempenham.
Tal necessidade decorre da reconhecida essencialidade do papel que estes profissionais assumem na
sociedade, garantindo o acesso à justiça àqueles que apresentam menores recursos. Foi esta necessidade que
deu suporte à proposta apresentada pelo PAN, em sede de Orçamento do Estado para o ano de 2018,
chumbada sem votos a favor, que previa a atualização em 5% dos valores constantes da tabela relativa à
remuneração destes profissionais.
Vimos agora, novamente, defender a atualização em 5% dos valores constantes da tabela relativa à
remuneração dos advogados, advogados estagiários e solicitadores pelos serviços que prestem no âmbito da
proteção jurídica, garantindo desta forma um pequeno sinal de reconhecimento da relevância das funções
desempenhadas pelos profissionais em causa.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Prosseguimos, agora, com a intervenção do Sr. Deputado José Manuel
Pureza.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta que hoje o PCP nos
traz a debate, a que se associaram iniciativas do CDS e do PAN, que prevê a atualização dos valores das
remunerações dos advogados oficiosos, merece, assim como as outras, a concordância do Bloco de Esquerda.
O nosso voto favorável é o reconhecimento de que esta é uma forma de trazer justiça aos advogados que
assumem o patrocínio de quem recorre ao acesso ao direito e que, desta forma, permitem que todos os
portugueses tenham acesso à justiça, dando concretização material a este direito fundamental.
Mas os baixos salários e a falta de direitos na advocacia não são, nem pouco mais ou menos, um exclusivo
dos defensores oficiosos, trata-se, cada vez mais, de uma realidade da grande maioria dos advogados.
Efetivamente, os baixos salários da maioria dos advogados portugueses, que podem mesmo chegar a ter
ordenados zero, o seu sistema de desproteção social, que parte de uma presunção de rendimento que prejudica
quem menos ganha e beneficia quem mais recebe, e os falsos recibos verdes, uma praga que percorre as
artérias de todo o trabalho português, são apenas alguns dos mais graves problemas que é urgente resolver.
Trata-se, pois, de problemas variados e complexos. São variados porque vão desde a precariedade até à
inexistência dos mais elementares direitos de proteção social, o que, inclusivamente, motivou uma inédita e
pujante manifestação a 25 de janeiro último. São também problemas complexos porque exigem um debate
profundo sobre problemas estruturantes deste setor que, apesar de existirem há anos, só agora começam a ver
a luz do dia. Foi a insustentabilidade desta situação que quebrou o manto de silêncio que cobria a advocacia
portuguesa e agora é tempo de assumir, com frontalidade, os problemas que temos pela frente, para chegarmos
a soluções justas.
Assumindo esta questão como uma das prioridades para este ano de 2018, o Bloco de Esquerda promoverá,
no próximo dia 22 de fevereiro, um debate público, aqui, na Assembleia da República, sobre a precariedade na
advocacia e a necessidade urgente de a combater.
É urgente trazer justiça a este setor e dar voz a milhares de advogados que vivem reféns do preconceito de
que estamos perante uma classe totalmente rica e privilegiada.