10 DE FEVEREIRO DE 2018
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A Sr.ª Secretária (Idália Salvador Serrão): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«Esmond Bradley-Martin faleceu, no dia 4 de fevereiro, vítima de homicídio, levantando-se a suspeita se terá
sido nas mãos daqueles que detêm o poder contra o qual ele há tanto tempo lutava. Geógrafo, dedicou a sua
vida à conservação da natureza, sendo considerado uma referência mundial nesta matéria e foi um dos
investigadores mais ativos e envolvidos no tema da caça ilegal de animais selvagens e, mais especificamente,
no tráfico ilegal de marfim e chifres de rinoceronte.
Antes dos seus primeiros relatórios, pouco se conhecia sobre as quantidades de chifres e presas em
circulação nos mercados negros. A sua investigação possibilitou o conhecimento sobre o percurso das presas
e contribuiu decisivamente para que a China viesse a proibir o comércio interno de chifres de rinoceronte na
década de 90 e, mais recentemente, tornasse ilegal todo o comércio de marfim.
Foi também Esmond quem revelou pela primeira vez, na década de 70, o número estimado de chifres e
presas que por aqueles anos eram, livre e violentamente, arrancados aos cadáveres de elefantes e rinocerontes
africanos, sobretudo no Quénia, para onde se mudou nessa década, mas também, desde então, em Angola,
Moçambique, Nigéria, Sudão e Egito.
Segundo Simon Denyer, jornalista do Washington Post, referindo-se a Esmond, ‘atirou uma corda de
salvação aos elefantes africanos e fez renascer uma nova esperança na batalha para acabar com a caça furtiva
de dezenas de milhares de animais todos os anos por causa das presas.’ Após o seu falecimento, esta
esperança foi abalada.
É, pois, com profunda tristeza que a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, se associa às
organizações ambientalistas e à comunidade científica na homenagem e no reconhecimento coletivo da vida e
do trabalho de Esmond Bradley-Martin, lamentando o seu falecimento e a enorme perda para todos nós.»
O Sr. Presidente: — Vamos votar o voto que acabou de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Segue-se a votação do voto n.º 479/XIII (3.ª) — De pesar pela morte de Santiago Ebbe Ela e pela grande
deterioração da situação dos direitos humanos na Guiné Equatorial, apresentado pelo BE e subscrito por
Deputados do PS e do PAN.
Para proceder à leitura do voto, tem a palavra o Sr. Secretário Moisés Ferreira.
O Sr. Secretário (Moisés Ferreira): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«Os atropelos do Governo da Guiné Equatorial aos direitos humanos têm sido denunciados por várias
organizações internacionais e já mereceram o repúdio da Assembleia da República. Contudo, acontecimentos
recentes não podem ficar sem resposta.
O crescendo de violência teve o ponto mais brutal na morte de Santiago Ebbe Ela, militante do partido de
oposição Cidadãos para a Inovação, numa esquadra em Malabo, capital da Guiné Equatorial. Refere Andres
Esono Ondo, Secretário-Geral do também partido de oposição Convergência para a Democracia Social na Guiné
Equatorial, que Ebbe Ela morreu devido a atos de tortura, e que há fotografias que o comprovam.
Além da detenção de centenas de militantes de partidos de oposição, o regime tem realizado prisões por
delitos de opinião. A prisão de Ramón Esono Ebalé é disso exemplo.
Ebalé, artista e cartoonista, foi preso devido à sua obra O pesadelo de Obi, que retrata uma personagem
inspirada no Presidente Obiang. Este artista encontra-se detido há cerca de cinco meses numa das prisões mais
perigosas e duras do mundo, reconhecida por episódios de tortura, violações, espancamentos e mortes. A
Amnistia Internacional descreve a sua entrada nesta prisão como ‘uma sentença de morte lenta e prolongada.
A nossa solidariedade deve dirigir-se, também, para Ebalé e quantos se encontram na mesma situação.
No âmbito da sua presença na comunidade lusófona, e naquilo que se pretende dos membros da CPLP, não
pode a Guiné Equatorial descomprometer-se com o Estado de direito e o primado da lei, nem desconsiderar
preceitos básicos de liberdade e proteção aos direitos humanos.
Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, manifesta o pesar pela morte de Santiago
Ebbe Ela, torturado e assassinado pelo regime de Teodoro Obiang, e condena os atropelos de direitos humanos
e as prisões arbitrárias levadas a cabo pelo Governo da Guiné Equatorial.»