I SÉRIE — NÚMERO 56
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entre setembro de 2016 e setembro de 2017. Candidatei-me ao PREVPAP mas o contrato acabou e vim embora.
Agora estou num novo Contrato emprego-inserção e não sei nada sobre o meu processo. Tenho dois filhos e
preciso saber se vou ter uma oportunidade de trabalho.»
Cito outro exemplo: «Somos 100 a exercer funções precárias na Autoridade Nacional de Segurança
Rodoviária. A direção já confirmou, por escrito, que exercemos funções permanentes, mas não temos qualquer
informação da CAB (comissão de avaliação bipartida). Os nossos contratos, que acabam nos próximos meses,
irão ser prorrogados?»
Adianto mais um exemplo: «Somos funcionários administrativos, a recibos verdes, na Universidade do Minho,
há vários anos. A reitoria mandou-nos para casa e diz que está a aguardar uma reunião com o Ministério para
saber se pode abrir concursos.»
Dizem também os trabalhadores da ANAC e da ANACOM que «a comissão de avaliação entendeu que não
fazemos parte do âmbito de aplicação da portaria que regula o PREVPAP», o que não tem lógica, porque,
justamente, fizemos uma alteração à lei para incluir estes trabalhadores. Contudo, foi na base desse
entendimento que lhes negaram o mecanismo de proteção.
Sr. Ministros, o atraso das comissões de avaliação não pode privar os precários do mecanismo de proteção
que a lei lhes confere. O Sr. Primeiro-Ministro disse neste Parlamento que entendia — e bem! — que o
mecanismo deveria ser aplicado desde já. A interpretação é correta, mas o Governo não está a garantir as
decisões concretas que protegem as pessoas. Têm de ser dadas instruções claras aos dirigentes para que os
contratos sejam prorrogados e retomados, como aconteceu, aliás, no Centro Hospitalar do Oeste.
Aplausos do BE.
O terceiro problema está nas interpretações criativas do conceito de «necessidade permanente» feitas por
dirigentes de serviços que, por essa via, procuram boicotar a lei.
Estivemos ontem reunidos, em Lisboa, com trabalhadores científicos da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, que tem várias unidades de investigação, sendo que nesta instituição há mais de 200 candidaturas
ao PREVPAP. Srs. Ministros, Srs. Deputados, sabem quantos investigadores permanentes existem no quadro
da faculdade? Dois! Repito, dois investigadores permanentes! Ninguém acredita que uma instituição deste tipo
possa ter apenas duas necessidades permanentes, mas o certo é que há inúmeros institutos públicos ou ligados
a universidades com interpretações que visam recusar a regularização destes trabalhadores da ciência. Isto
passa-se, também, noutros setores. Cito um exemplo: «Sou mediadora educativa num agrupamento de escolas.
Vou no nono contrato e dizem que precisam do meu trabalho, mas não me podem considerar uma necessidade
permanente porque estou afeta a um projeto que nunca se sabe se vai ter continuidade ou financiamento.»
Srs. Ministros, Srs. Deputados, nove anos — repito, nove anos! — não chegam, pelos vistos, para se ser
considerado uma necessidade permanente. Seriam precisos quantos anos?!
Dou-vos outro exemplo: «Sou contratada pelo Ministério da Educação e estou na mesma escola desde 2007,
sempre a termo, na área da orientação vocacional e formação de adultos. Em todos os anos o contrato acaba e
há um novo contrato. Não sabem se sou uma necessidade permanente?! Acaso a aposta na educação de
adultos vai caducar em 2018?!»
Perguntam-nos, também, os trabalhadores do INE (Instituto Nacional de Estatística): «Somos entrevistadores
do INE e dizem que não somos necessidades permanentes. Mas como é que o INE funciona sem
entrevistadores?»
Srs. Ministros, cada comissão de avaliação tem sete membros: três do Governo, três dos sindicatos e um
dirigente máximo. Ou seja, nenhum dirigente, nenhum reitor, nenhum diretor tem o poder de, sozinho, boicotar
o programa. Pareceres que procuram escapar aos factos e contornar a lei só prevalecerão se o Governo os
caucionar. Só haverá decisões negativas das comissões com a cumplicidade do Governo. Está nas mãos do
Governo anunciar que terminou o boicote, impedir quem está a tentar fazer esse boicote e, na fase de recurso,
corrigir estas decisões.
Aplausos do BE.