8 DE MARÇO DE 2018
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O quarto problema prende-se com um assunto que, tanto eu como o Sr. Ministro do Trabalho conhecemos
bem, das reuniões que tivemos em conjunto para preparar o diploma: o falso outsourcing. Ou seja, o recurso a
empresas privadas, não para contratar um serviço, mas para fornecer mão de obra. A primeira versão da
proposta de lei do Governo foi alterada no Parlamento, por proposta do Bloco, para clarificar que estas formas
perversas de disfarçar a precariedade seriam incluídas neste programa, e ainda bem que pusemos isso na lei.
No Centro Hospitalar do Oeste, a lei foi respeitada e as mais de 100 trabalhadoras intermediadas por uma
empresa de trabalho temporário já têm o seu vínculo reconhecido e aguardam concurso. Mas há pessoas na
mesmíssima situação, a quem está a ser negado esse direito. Oiçam este caso: «Na RTP Porto, somos 25
trabalhadores — metade dos trabalhadores permanentes necessários para a RTP Porto funcionar —
intermediados por uma empresa externa, ou seja, trabalhamos a recibo verde para a Código Green.
Candidatámo-nos ao PREVPAP e, desde então, estamos a ser assediados para assinar um contrato de
prestação de serviços que é uma mentira.» Na verdade, querem que estes trabalhadores assinem, em março
de 2018, um contrato que teria a data de início em janeiro de 2017, para que a Administração da RTP possa
usar esses contratos como pretexto para excluir estes trabalhadores da regularização. Ou seja, um hino à
intrujice.
E há mais exemplos: «Somos mais de 60 enfermeiros, técnicos de farmácia, psicólogos, dentistas, auxiliares
de ação médica a trabalhar via outsourcing em três estabelecimentos prisionais. Há mais de 10 anos que somos
uma necessidade permanente e imprescindível, mas os nossos dirigentes dizem que não vamos ser abrangidos
pelo PREVPAP porque são as empresas privadas que têm de nos contratar.»
Outro exemplo: «Sou chefe de equipa na autoridade regional de saúde e tenho a meu cargo 10 pessoas,
mas trabalho por via de uma empresa externa. Não sei se vou ser integrada, porque dizem que o meu vínculo
não é com o Estado.»
Srs. Ministros, não é aceitável que dirigentes usem o falso outsourcing como biombo para fingir que estas
pessoas não são trabalhadoras do Estado. As comissões de avaliação não podem validar essa leitura e está
nas mãos do Governo garantir, nessas comissões, a integração destes trabalhadores.
Um quinto caso é o dos estagiários que desempenharam necessidades permanentes, que não estavam
incluídos na proposta inicial do Governo, mas que foram incluídos, por proposta do Bloco de Esquerda, na lei.
Falamos de todo o tipo de exemplos: estagiários na Agência Portuguesa do Ambiente (APA), estagiários na
PSP (Polícia de Segurança Pública), estagiários no tribunal…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Terminarei, Sr. Presidente, pedindo-lhe alguma tolerância.
Falamos de estagiários em todo o tipo de serviços, incluindo os que estão no IEFP (Instituto do Emprego e
Formação Profissional) para analisar a fiscalização dos programas de estágio do IEFP. Os estagiários foram
incluídos na lei, mas as comissões de avaliação estão a dizer que a lei não as vincula. Para o Bloco, esta
interpretação é uma aberração.
Está nas mãos do Governo resolver este problema, chamar a si os processos dos estagiários, dar ordem
explícita para que os pareceres positivos dos dirigentes sejam enviados diretamente aos respetivos ministérios
e para que se proceda à homologação.
É preciso também que o Governo dê um sinal para a integração nas autarquias.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que o processo de regularização dos
precários do Estado é uma oportunidade histórica para corrigir injustiças e ilegalidades e deixamos aqui desafios
concretos ao Governo.
É pelos precários que tomamos a palavra e é pelo sucesso ou pelo insucesso deste programa que o Governo
será julgado, não apenas pelo Bloco de Esquerda, mas pelo conjunto dos precários que veem nesta maioria a
expectativa de serem finalmente respeitados.
Aplausos do BE.