I SÉRIE — NÚMERO 74
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Aplausos do PS.
As dificuldades que se identificam à concretização destas propostas, de ordenação, de substituição, etc.,
serão facilmente ultrapassáveis na discussão em especialidade. Que elas não prejudiquem a defesa do bem
maior — igualdade entre homens e mulheres na decisão política.
A outra proposta de lei, sobre representação equilibrada de género no pessoal dirigente da administração
direta e indireta do Estado, é fundamental para que o saber das mulheres não continue a ser desperdiçado.
Em Portugal, 60,2% da população empregada com o ensino superior é do sexo feminino e as mulheres são
maioritárias na Administração Pública, mas nem por isso ocupam de forma maioritária os lugares de direção,
antes pelo contrário. Os números falam por si: nos dirigentes superiores da Administração Pública, a taxa de
feminização é de 33%; os conselhos gerais das instituições de ensino superior são constituídos por 67% de
homens e 33% de mulheres.
É, por isso, mais do que justo e oportuno corrigirem-se os limiares de paridade nos órgãos de direção da
Administração Pública.
Sr.as e Srs. Deputados: Se não fosse a Lei da Paridade de 2006 muitas das 80 mulheres Deputadas com
assento nesta Assembleia não estariam aqui.
O que está em jogo não é uma questão de mérito, como querem fazer crer, porque as mulheres são altamente
qualificadas. Se fosse essa a questão esta lei seria dispensada. O que está em jogo é que as oportunidades
para mulheres e homens em lugares de representação política e de direção não são, ainda hoje, iguais.
Estas propostas de lei são pela justiça, para acelerarmos o tempo que demora a cumprir a democracia, o
tempo que demora a cumprir a igualdade.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, em nome do Bloco de Esquerda, tem
a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa,
Sr.as e Srs. Membros do Governo, Srs. e Sr.as Deputadas: As questões da igualdade são frequentemente
encaradas como «coisa de mulheres», mas, pelo contrário, as questões que afetam as mulheres, da
desigualdade salarial à desigual representação e participação política, das desigualdades no acesso a cargos
de chefia, liderança e tomada de decisão à violência doméstica e no namoro ou ao assédio, são questões de
direitos humanos e, por isso, dizem respeito a todos e a todas, mulheres e homens, sem exceção.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — É hoje inegável que a participação de mulheres e homens em igualdade é um
fator-chave para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Combater a exclusão das mulheres em todos os
aspetos da vida pública e privada e, especificamente, nos cargos e órgãos de tomada de decisão e liderança do
Estado é, pois, a exigência fundamental para a transformação social e o caminho necessário para uma
sociedade saudável, justa e igualitária.
Mas, apesar de todos os esforços e de todos os avanços que têm sido feitos nesta área, continuamos, no
nosso País, a ter uma realidade desigual, a organizar a vida em função de estereótipos de género e a naturalizar
a desigualdade.
O índice de igualdade do Instituto Europeu para a Igualdade de Género coloca Portugal num dos últimos
lugares da União Europeia, no que respeita à igualdade entre homens e mulheres. Portugal está em 21.º lugar
e a área do poder é aquela em que Portugal regista a classificação mais baixa: 33,9 pontos.
A realidade teima em mostrar-nos que a participação das mulheres, em especial na liderança e na tomada
de decisão, continua a ser minoritária, ainda que as mulheres representem 54% das inscrições no ensino
superior e 63% dos diplomados.