20 DE ABRIL DE 2018
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Quando se fala dos cargos dirigentes superiores na Administração Pública, as mulheres representam apenas
33% e, mesmo quando são maioritárias nos cargos intermédios, que é o caso da educação, em que as mulheres
representam quase 80% dos agentes de ensino, à medida que se sobe na hierarquia as mulheres desaparecem,
como por magia. Isto diz-nos tudo sobre o argumento do mérito, tantas vezes invocado quando se fala de quotas.
Curiosamente, é um critério fervorosamente invocado quando se trata de mulheres mas silencioso quando se
fala de homens.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — É que, Srs. e Sr.as Deputadas, o mérito, com que tantos se escusam para não
mudar nada, só tem legitimidade quando as condições de partida — o acesso e a participação — são garantidas
em plena igualdade; senão, é apenas uma desculpa cobarde.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — E aos que acham que tudo já está feito, que as mulheres já estão na política,
que já são autarcas, que já são Deputadas e até Ministras e que é a evolução natural da sociedade que imprime
a paridade entre homens e mulheres, convido-os a olharem atentamente para a realidade.
Em mais de quatro décadas de democracia, tivemos 484 Ministros e 34 Ministras. Atualmente, no
Parlamento, em 230 assentos, temos 80 mulheres (34%). Nas 308 câmaras municipais do País, apenas 10%
das presidências de câmara são ocupadas por mulheres — são 32 mulheres e 276 homens. O mesmo se passa
nas presidências de juntas de freguesia.
E, Srs. e Sr.as Deputadas, não se iludam, porque estes 34% de mulheres que hoje temos aqui, nesta Câmara,
devemo-los à Lei da Paridade de 2006.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Antes disso, e em 25 anos de democracia, as mulheres Deputadas não
passaram dos 10%. A subida, depois disso, foi lenta e gradual e nunca ultrapassou os 20%.
Foi a aplicação de quotas às listas eleitorais para a Assembleia da República, a partir de 2006, que permitiu
que hoje, aqui, nesta Câmara, se sentem estes 34%, estas 80 mulheres. Mesmo assim, 12 anos depois da
aplicação da Lei, continuamos a cumprir apenas o mínimo legalmente exigível. Esta é a prova mais do que
suficiente da necessidade de uma lei que garanta uma maior igualdade, uma maior paridade.
E do que se trata aqui é de uma questão de equilíbrio. As regras de ordenação propostas para a elaboração
das listas e as regras de substituição de elementos eleitos por pessoa do mesmo género mais não fazem do
que respeitar o mais elementar equilíbrio de género: uma mulher não pode ser substituída por um homem, mas
um homem também não pode ser substituído por uma mulher.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — O Bloco de Esquerda tem inscrita na sua natureza a ideia de que a igualdade
de género não é unicamente um direito das mulheres, é também uma condição essencial para a coesão social
e para a sustentabilidade e dignidade da democracia. Por isso, não podemos deixar de acompanhar e saudar
estas iniciativas, que votaremos, evidentemente, a favor.
Aplausos do BE e da Deputada do PS Elza Pais.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do
Partido Social Democrata, o Sr. Deputado Carlos Peixoto.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Presidência e da Modernização
Administrativa, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Sejamos francos, esta Lei, conhecida como